segunda-feira, julho 30, 2007

EPITÁFIO COM LANTERNA MÁGICA (1918-2007):


Quando se trata de um grande homem, a morte é sempre inesperada e ultrajante, quer ocorra aos 89 anos ou aos 49 anos. Nem a idade, nem a ordem natural das coisas, nem a inevitabilidade, nem a doença são capazes de mitigar o desgosto.


A importância da obra de Bergman é imensa. Não vou ofender as dezenas de obras-primas que ele realizou com uma pobre tentativa de exprimir essa importância em quatro ou cinco linhas.


Na nossa televisão, alguém teve a infeliz ideia de chamar a Bergman "o poeta do cinema", e dedicaram-lhe hoje pouco mais tempo do que a uma sucata clandestina que foi descoberta em Sobral de Monte Agraço.


(Na imagem, Ingrid Thulin e Max von Sydow no meu filme preferido de Bergman, "O Rosto". Retirada daqui.)

domingo, julho 29, 2007

REPUTAÇÃO: José Manuel Fernandes remata a sua crónica do "Público" de sábado passado do seguinte modo: «Mesmo sem apreciar literatura mágica, mas curioso por perceber o que cativou milhões de adolescentes e jovens, não sei se, depois de um ano muito cansativo, não levarei para férias os sete volumes de Harry Potter adiando, mais uma vez, a entrada noutros sete volumes: os de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Mesmo que à custa da minha reputação intelectual na implacável blogosfera.» Em primeiro lugar, não se me afigura que a reputação intelectual de José Manuel Fernandes seja um dos tópicos de predilecção dos bloggers nacionais ou estrangeiros. Verdade seja dita, porém, que sou um leitor de blogs superficial, e não posso excluir a existência de numerosos recantos do ciberespaço (incluindo, quiçá, fóruns, comunidades no MySpace e províncias inteiras do Second Life) onde a envergadura intelectual de José Manuel Fernandes é objecto de debates electrizantes. Em segundo lugar, não me parece que José Manuel Fernandes deva temer repercussões negativas deste seu ousado desabafo. Neste país que é o nosso, onde um termo como "bem-pensante" ganhou aura pejorativa, privilegiar a cultura popular sobre a dita "alta cultura" muito dificilmente será visto como uma confissão de frivolidade; muito pelo contrário, esse tipo de confissão mais depressa será encarado como um suculento desafio ao politicamente correcto, e o seu autor como um iconoclasta dotado da virtude de não se levar a sério. Em terceiro lugar, julgo que estas inocentes negaças ao gosto dominante põem a reputação intelectual de José Manuel Fernandes menos em risco do que dislates como este (do editorial do "Público" de 24/7, a propósito das eleições legislativas na Turquia, negritos meus): «Os eleitores deram mais atenção a estes argumentos do que aos dos seus adversários, pelo que o voto de domingo foi um duro golpe para os militares, que, ao longo de décadas, garantiram o legado laico do Estado que Ataturk fundou sobre o modelo francês. Ou seja, sobre um modelo em que o Estado não é apenas independente da religião ou religiões, mas em que limita o espaço das religiões. Mesmo assim o voto de domingo não acaba com a polarização da sociedade turca, que se agravou nos últimos meses, pelo que o primeiro desafio do reeleito Erdogan passará por apaziguar as tensões entre secularistas e crentes, de forma a permitir que, do modelo francês, a Turquia possa evoluir para o anglo-saxónico, onde o Estado é laico mas não anti-religioso.» Lê-se e não se sabe o que mais admirar: se a mirabolante ideia de um modelo francês de Estado anti-religioso (própria de quem aprendeu a história da França por meio de fascículos piedosos com estampas coloridas) se a sugestão, não isenta de uma certa comicidade, de que a Inglaterra possa ser vista como um exemplo a seguir em termos de laicidade. É este apetite pela distorção dos factos que preocupa, da parte do director de um dos diários portugueses de maior tiragem, e não a inócua veleidade de passar as férias mergulhado nas aventuras de um jovem feiticeiro de óculos de aros redondos.
A PACIÊNCIA, MAIOR VIRTUDE DO CINÉFILO: Decididamente, escasseia-me a paciência para tentar penetrar os desígnios das distribuidoras de cinema. No site da Atalanta, eis que vários filmes deveras prometedores passaram da secção "Próximas Estreias" para "Brevemente", o que é tanto mais inquietante quanto o historial recente desta distribuidora já demonstrou quão elásticos podem ser os limites temporais deste termo. Falo, mais concretamente, dos filmes de Hou Hsiao-Hsien e de Kaurismäki, falo de "Peindre ou Faire l'Amour", dos irmãos Larrieu. É certo que alguns dos filmes que, vindos do nada, ocupam agora a secção "Próximas Estreias" são também de molde a despertar abundantes salivações cinéfilas: Tsai-Ming Liang, Emmanuelle Cuau (com a soberba Sandrine Kiberlain; vi um interessante filme desta realizadora em Paris, "Circuit Carole", com a rivetteana Laurence Côte), Iosseliani (se bem que este "Jardins en Automne", que já vi na Cinemateca, me pareça pouco acrescentar à obra do autor georgiano). Mas a questão não é essa. O que está em jogo aqui é a recorrente falibilidade das previsões da Atalanta sobre as datas de estreia dos próprios filmes. É uma questão de respeito pelo espectador, que assim se vê na contingência de implorar ao façanhudo deus das salas de cinema a dádiva de poder ver o filme há muito antecipado a partir da data que foi anunciada. Terá de passar muito tempo até que eu me esqueça de "Manderlay", anunciado durante meses e que acabou saindo directamente em DVD. São amargos de boca como este que me tornam céptico quanto à sobrevivência do cinema em salas, excepção feita à Cinemateca, por um lado, e aos blockbusters, por outro. Receio que o futuro da relação entre o consumidor e o cinema com um mínimo de pretensão artística passe essencialmente pelo DVD e por canais de televisão especializados (já é isso que sucede fora dos grandes centros urbanos) e pelo aluguer directo via Internet. (Ontem tentei ir ver "Juventude em Marcha" no Nimas, mas as sessões tinham sido canceladas, ao que parece por falta de autorização para a exibição do filme. Talvez isto tenha contribuído para este meu desencanto.) Naturalmente que concentro estes meus reparos na Atalanta porque seria ocioso estar a dirigi-los aos seus concorrentes. O "Die Hard 4" não é para aqui chamado.
MENTE FELINA: A gatinha Goneril e o gatinho Jasmim têm, cada um, as suas obsessões muito pessoais e intransmissíveis. Uma das poucas obsessões que partilham é pelas pratinhas de bombom. Podem ser bombons Garoto. Eles não discriminam marcas.


segunda-feira, julho 23, 2007

FALSA MEMÓRIA?: Recordo-me de ter ouvido dizer que uma das razões que Sartre alegou para recusar o Nobel foi o facto de este nunca ter sido atribuído a Pablo Neruda (que viria a ganhá-lo em 1971). Nunca mais voltei a ouvir esta história. Terei inventado isto? Terei feito confusão?
DISSE ELE: Há lá maior desafio do que viver uma vida decente?

domingo, julho 22, 2007

A RONDA DA NOITE(1):









Diz-se que gostos e cores não se discutem... Por norma, discordo: não só os gostos se discutem, como discutir cores pode ser um dos passatempos mais indispensáveis a uma vida sã e preenchida. Casos há , porém, em que discussões desta índole me parecem enfadonhas de tão dispensáveis. Por exemplo, as argumentações relativas ao primeiro lugar do pódio da ficção portuguesa actual, por norma açambarcadas por antuninos e saramaguianos pletóricos, perdem razão de ser a cada novo livro de Agustina Bessa-Luís que sai para o mundo. Agustina é o maior talento da prosa narrativa portuguesa dos últimos 100 anos, e não vejo quem, além de Vergílio Ferreira, lhe poderá ser comparável em profundidade e ambição artística, argúcia, manejo da língua e versatilidade (para não falar da produtividade). É forte a tentação que sinto de mandar às malvas qualquer objecção quanto à subjectividade de um julgamento deste tipo. Romances magníficos de inteligência e liberdade como "A Ronda da Noite" tornam esta evidência demasiado límpida para que se perca mais tempo com a questão.
PLANO NACIONAL DE RELEITURA: Recebam a minha gratidão, autores do Cine-Australopitecus e do Design do Dasein, por se terem lembrado de mim. Como não vejo qual o interesse que poderia ter a lista dos últimos 5 livros que passaram pelas minhas mãos, prefiro elencar 5 dos livros que ambiciono reler num futuro não demasido remoto. (Não que esta lista possa, mais do que a outra, ser de molde a despertar paixões, mas pelo menos compromete-me perante o mundo.) "Margarita e o Mestre", de Mikhail Bulgakov. O título deveria ser "O Mestre e Margarita"; nunca saberei por que motivo o tradutor português inverteu a ordem dos termos. (A propósito, Rogério, afinal as notas de rodapé com explicações sobre trocadilhos no original russo são escassíssimas, ao contrário do que a minha claudicante memória me sugeria.) Para além de ser uma das histórias de amor mais improváveis e exaltantes da história da literatura, passar muitos anos sem recordar a passagem do diabo por Moscovo é nocivo a tudo o que seja órgão, sistema e víscera. "The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman", de Laurence Sterne. Li-o demasiado jovem; impõe-se uma segunda dose. A ousadia não deve, só por si, ser uma virtude nas artes, mas pode ser um dos principais auxiliares do génio. Dá ainda que pensar o facto de este prodígio de invenção e humor, repleto de convoluções narrativas e retóricas, ter sido redigido no século XVIII e ter tornado o seu autor famoso. Bela negaça ao lugar-comum do autor incompreendido no seu tempo e exaltado pelos seus vindouros. "Ulysses", de James Joyce. Passou, julgo, suficiente tempo desde a última leitura para que a próxima se assemelhe à primeira, o que acarreta um deleite ímpar que me entretenho (perversamente?) a antecipar. Talvez desta vez seja de evitar a controversa edição revista por Hans Walter Gabler. "La Vie Mode d'Emploi", de Georges Perec. Se alguém, alguma vez, me pedisse (isto nunca aconteceu) para me definir em X palavras, ofereceria a essa pessoa um exemplar de "La Vie Mode d'Emploi". Não só seria a atitude mais correcta e menos morosa, como seriam elevadas as probabilidades de fazer um novo amigo. "Ficções", de Jorge Luis Borges. Antes de ter nas mãos pela primeira vez este livro, as referências que dele me chegavam faziam-me supor um calhamaço com centenas de páginas. Lendo-o, maravilhou-me esse talento quase sobrenatural de Borges para sugerir os abismos do infinito por meio da brevidade, da alusão, da elipse e de um comedimento vagamente cabotino. Será essa a sensação que esperarei reencontrar quando encetar a releitura. O facto de "Pierre Menard, autor do Quixote" ser um dos textos mais subtis e empolgantes que conheço não é detalhe de importância menor. (Ah, e não passo a ninguém este desafio, nem o original que declinei. Talvez seja caturrice minha, mas acho que a blogosfera estaria mais fresca e airosa sem estes memes, versão mais sofisticada e tongue-in-cheek das cartas em cadeia exortando à oração a São Judas Tadeu.)
EU CÁ APOIO LUÍS FILIPE MENEZES: Um homem que foi capaz de afirmar, no rescaldo do referendo sobre a legalização da interrupção voluntária da gravidez, ter-se tratado de uma grande derrota para Jósé Sócrates, e isto sem ceder a uma gargalhada, merece maior protagonismo na política portuguesa. Amiúde, é nesta zona cinzenta que faz fronteira com a estultice e com o desplante que se encontram os líderes de excepção, capazes de conduzir uma nação à glória, ou pelo menos a um descalabro glorioso.
OUT, DAMNED SPOT!: "Macbeth" revisitado numa máquina de lavar Siemens. Acto 5, cena I.
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Um jovem lia Cesário Verde na linha amarela do metropolitano. Seria esta uma ocasião de ouro para um daqueles trocadilhos de bazar que abundam em certas paragens, e que os leitores habituais deste espaço já sabem não ser o tipo de coisa que esperam poder encontrar aqui.

quarta-feira, julho 18, 2007

ENLACE-SE: Tem nome de filme e abundância de versos. Gosto mais de "Paris" do que de "Texas", mas quando os dois se juntam coisas simpáticas costumam acontecer.

segunda-feira, julho 16, 2007

FAIRE SIGNE:



Este é um dos "quadros negros" de Goya, um dos catorze que ele pintou nos seus últimos anos, nas paredes da "Quinta del Sordo". Muito menos conhecido do que "Saturno devorando o seu filho", é, para mim, muito mais poderoso e impressionante. Tal como aos restantes "quadros negros", Goya não lhe atribuiu um título. Chamaram-lhe "Um cão lutando contra a corrente"; mais tarde, simplesmente, "Um cão". Encontra-se hoje no museu do Prado.

Daniel Arasse, no seu livro "Le Détail", defende que, neste quadro, Goya fez da virtualidade o próprio sentido da obra. E mais afirma:

«Ainsi conçu, le symbole énonce le sens comme une virtualité de l'image, force et puissance active dans cette image, qui échappe cependant à toute explicitation où s'abollirait la présence de l'image et où triompherait un discours dont l'image ne serait que l'équivalent visuel. Le sens intime d'Un chien pourrait bien être ainsi inhérent à l'œuvre elle-même, en être une «inhérence indéchirable» (...). Le sens de l'œuvre pourrait être l'œuvre elle-même, présence d'un objet signifiant, rendu énigmatique par l'opacité même de la peinture qui y fait signe.»

Olhando para este quadro, fico com a impressão de que quase tudo o que importa na história da pintura passa por aqui. (E talvez não só da pintura, e talvez à mistura com algo da ordem da paixão.)
ESTREITEZA DE VISTAS 1 BOM SENSO 0: Por vezes, sentimo-nos tentados a nutrir a ilusão de que a responsabilidade e a coragem política vão falar mais alto do que a tibieza e a pusilânime tentação do compromisso. O inevitável amargo de boca que se segue tem o travo detestável do hábito e da fatalidade. A versão mais rigorosa (mais "hitleriana", ou mais "fundamentalista", dirão os histéricos do costume) da lei de interdição do tabaco em espaços públicos tinha tudo a seu favor: o bom senso, a opinião pública, dados recentes que indicam valores impressionantes para o número de mortes anuais devidas ao fumo passivo. Tudo a seu favor? Erro! Tudo, menos a proverbial tacanhez de espírito dos legisladores portugueses e o seu apetite atávico pela acomodação, pelo arranjismo e pela cedência ao compromisso. O resultado líquido das derradeiras manobras nos bastidores de São Bento foi uma lei mais complicada, que vai claramente ao arrepio da tendência geral na Europa Ocidental, e que se arrisca a, depois de tanto alarido e ranger de dentes, deixar quase tudo na mesma, no que toca ao consumo de tabaco em bares e restaurantes: com efeito, ninguém ignora que os estabelecimentos com menos de 100 metros quadrados, onde continuará a ser permitido fumar excepto se os proprietários decidirem em contrário, estão em larguíssima maioria. A partir de 1 de Janeiro, cá estaremos para ver quantos destes passam a interditar o tabaco. Palpita-me (fica prometido o devido acto de contrição caso me engane) que serão poucos, para gáudio dos arautos da pseudo-liberdade de escolha, que nunca hesitaram em recorrer aos argumentos mais escabrosamente ridículos para vociferar contra qualquer lei que os privasse do direito de poluir o ar alheio com o agente que é a maior causa de morte evitável no mundo ocidental. Os vindouros hão-de ver nesta lei pouco mais do que uma supérflua etapa intermédia rumo a regulamentações mais restritivas, que não tardarão a surgir à medida que os contornos reais deste problema de saúde pública se forem tornando cada vez mais nítidos. Entretanto, as mortes e horas de trabalho perdido por via da exposição ao fumo alheio continuam dentro de momentos. Com a cumplicidade daqueles que malbarataram esta oportunidade.

domingo, julho 08, 2007

ANÚNCIO DE ANÚNCIOS DE GATO PERDIDO INVENTADO PERDIDOS:
Paredes, muros, cercas,
na vossa singeleza plana e monócroma,
não lamentais a singular falta
de anúncios,
especialmente
anúncios de gato perdido inventados?
Eles costumavam ser tantos e
tão repletos
de brincalhões cambiantes verbais.
A paixão pelos bichanitos
engolidos pela ingrata paisagem urbana
de Lisboa
emanava deles
como luz de um candeeiro a gás,
quer dizer suave mas perene.
O seu fluxo de dizeres
angustiados e esperançosos
e de focinhos atrevidos
fotocopiados a preto e branco
era parte dos meus dias.
(Talvez a melhor parte deles.)
Fui todos esses donos
e todos esses felinos
que estranhavam o asfalto
húmido de chuva e óleo.
Decorei números de telemóvel,
algarismos resplandecentes
de significados,
de promessas de reencontro
num qualquer canto macio de lar aquecido.
Em todos esses reencontros estive presente
mesmo naqueles que nunca aconteceram.
Nada
do que as paredes dizem
agora me desperta.
Talvez todos os gatos perdidos da cidade
tenham sido encontrados.
Talvez haja gatos, mas não
as palavras destinadas
a evocá-los,
nesta cidade demasiado mesquinha
para ser fatal.
BERLIN, CHAMISSOPLATZ: Sim, Chamissoplatz diz-me muita coisa, por acaso. Lembra-me um trecho do filme de Thome que ficou gravado numa cassete VHS, entre outros dois programas. Hanns Zischler cantava, acompanhando-se ao piano, uma canção longa e bela, para uma personagem feminina. Ou seria ela que cantava para ele? Recordo-me (mas a memória é um processo que nem precisa de malícia para ser traiçoeiro) de um travelling longo e circular no interior de um apartamento berlinense. E é tudo.

Tenho saudades dos filmes de Rudolf Thome. Houve tempos em que chegaram a ser mostrados assiduamente nas salas de Lisboa ("O Filósofo", "Amor à Primeira Vista") e na RTP. Agora, tornou-se quase impossível vê-los. Tive ainda a sorte de ver e gravar algumas das suas obras enquanto estive em França ("The Sun Goddess", "Tigerstreifenbaby Wartet Auf Tarzan"), e de ver, em estreia, "Paradiso" (que, por sinal, me desiludiu). Tenho profunda admiração pela maneira aparentemente simples e plácida como desconstrói as relações humanas, pela sensualidade quase pueril com que este cineasta de actores filma os seus actores. Em Thome, o acto de filmar tem tudo de subversivo e nada de provocatório ou agressivo.

O meu filme preferido deste realizador trata (um pouco atipicamente) da irrupção do sagrado entre os fluxos amorosos superficiais de um grupo de personagens. Ou talvez não passe de um esvaziamento encenado da própria noção de sagrado. Tanto que eu gostaria de rever "O Segredo".




(A companhia de produção de Thome, a Moanafilm, tem um site que não está nada mal feito.)
PARA QUÊ GASTAR DINHEIRO COM ADVOGADOS QUANDO SE TEM UM AMIGO NA CASA BRANCA INCLINADO PARA A COMPAIXÃO?: Durante o seu mandato e meio como Governador do Texas, George W. Bush apenas concedeu clemência num dos 153 casos de condenação à morte que passaram pela sua secretária, e o número de execuções nesse estado foi maior do que com qualquer um dos seus antecessores no cargo. Há poucos dias, o mesmo Bush comutou a pena de prisão de Lewis Libby, antigo assistente do vice-presidente Cheney acusado por um júri federal na sequência do escândalo da revelação da identidade da agente da CIA Valerie Plame. Libby fora condenado a 30 meses de prisão, uma multa de 250 000 dólares e 400 horas de serviço comunitário, por perjúrio, obstrução da justiça e por prestar declarações falsas a investigadores federais. Bush, fazendo uso de uma prerrogativa constitucional, anulou a pena de prisão, alegando que a sentença era "excessiva". Nos últimos tempos, tem crescido o consenso em torno da convicção de que Bush é o pior presidente dos E.U.A. das últimas gerações. Em final de mandato, "W." parece apostado em acrescentar à simples (mas colossal) incompetência uma sólida camada de ignomínia. Seria em alturas como estas que eu mais gostaria de auscultar a opinião desses que desfraldam com ingenuidade juvenil a bandeira da americanofilia. Falo dos Luíses Delgados e Joões Carlos Espadas que ufanamente confundem os Estados Unidos com um incorruptível farol de moral e virtudes, e que teimosamente se recusam a admitir o óbvio: que nenhum país está imune a abusos dos seus dirigentes, e que as beliscadelas na separação de poderes são um passatempo que não conhece fronteiras.

terça-feira, julho 03, 2007

O QUE HÁ NUM NOME? (E NUMA ALCUNHA?): Num episódio da série "Dharma & Greg", Dharma aconselhava a sua sogra a nunca jogar bilhar a dinheiro com um homem que se chamasse "Sweet Lou". Tenho pautado a minha vida, desde então, por esta sábia advertência. E não me arrependo.
CHECK YOUR FACTS!: Mesmo para um jornal gratuito, o desleixo que parece presidir à redacção de algumas notícias do "Meia Hora" causa calafrios. Na edição de ontem, a propósito do concerto de homenagem à "Princesa do Povo" (que o nosso serviço público de televisão fez o inestimável obséquio de trazer até nós), este diário afirmava que "Os príncipes levaram a concerto artistas de que Diana gostava, como Joss Stone". Atendendo a que, à data do fatídico acidente do túnel da ponte de Alma, a futura intérprete de "Right To Be Wrong" tinha 10 anos, e ainda nem sequer protagonizara a sua primeira actuação em público. na escola secundária de Uffculme, no Devon, isto abona muito em favor da presciência da princesa Diana e da sua capacidade para descobrir novos talentos.