Já há quem cite Wittgenstein a propósito da crise política, neste caso o ex-ministro Rui Pereira. Pergunto-me se isto é bom ou mau sinal.
O enigma não existe.
Se se pode de todo fazer uma pergunta, então também se pode respondê-la.
(L. Wittgenstein, "Tratado Lógico-Filosófico", 6.5, tradução de M.S. Lourenço, Fundação Calouste Gulbenkian)
sábado, julho 20, 2013
sexta-feira, julho 19, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Na linha vermelha do metropolitano, um leitor cedeu ao sono quase imediatamente após ter começado a ler "Uma Viagem à Índia", de Gonçalo M. Tavares.
Na linha verde, uma leitora lia "The Great Gatsby" na versão original.
E se a Salvação Nacional acontecesse por obra e graça dos leitores em lugares públicos?
Na linha verde, uma leitora lia "The Great Gatsby" na versão original.
E se a Salvação Nacional acontecesse por obra e graça dos leitores em lugares públicos?
segunda-feira, julho 15, 2013
SÓ O CINEMA
"Éloge de l'Amour", de Godard. Revejo-o por necessidade, por compulsão. De cada vez, sinto-me como se tivesse aprendido coisas novas sobre o filme e sobre a vida - mas também como se aquilo que desaprendi e deixei de perceber pesasse mais, muito mais, no outro prato da balança. A perplexidade é um exercício duro e demorado. Toda a ajuda é bem-vinda.
Mas este afinal é um filme que nos fala da ambição mais simples de todas - a de ser adulto. A mais simples e a mais desmesurada. Porque um adulto não é coisa alguma - como é dito no filme. Edgar pode ser o único homem que tenta ser adulto (no filme ou na vida?). Isso não faz dele um exemplo a seguir. Implica apenas que está a caminho de se tornar invisível. Nessa altura, o problema ficará resolvido.
Talvez volte a escrever sobre este filme. Ou talvez não. Não importa.
Mas este afinal é um filme que nos fala da ambição mais simples de todas - a de ser adulto. A mais simples e a mais desmesurada. Porque um adulto não é coisa alguma - como é dito no filme. Edgar pode ser o único homem que tenta ser adulto (no filme ou na vida?). Isso não faz dele um exemplo a seguir. Implica apenas que está a caminho de se tornar invisível. Nessa altura, o problema ficará resolvido.
Talvez volte a escrever sobre este filme. Ou talvez não. Não importa.
domingo, julho 14, 2013
14 DE JULHO
A Bastilha caiu há 224 anos. O mundo mudou. Levou tempo, mas mudou. E para muito melhor, mau grado todos os avanços e recuos e todos os desvarios da natureza humana que não olham a contextos históricos.
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Imagem retirada daqui. |
sábado, julho 13, 2013
PÉROLAS DA PARIS REVIEW
JOYCE CAROL OATES: The thought of dictating into a machine doesn't appeal to me at all. Henry James's later works would have been better had he resisted that curious sort of self-indulgence, dictating to a secretary.
(...)
JOYCE CAROL OATES: Generally I've found this to be true: I have forced myself to begin writing when I've been utterly exhausted, when I've felt my soul as thin as a playing card, when nothing has seemed worth enduring for another five minutes... and somehow the activity of writing changes everything.
(The Paris Review Interviews, Vol.3)
(...)
JOYCE CAROL OATES: Generally I've found this to be true: I have forced myself to begin writing when I've been utterly exhausted, when I've felt my soul as thin as a playing card, when nothing has seemed worth enduring for another five minutes... and somehow the activity of writing changes everything.
(The Paris Review Interviews, Vol.3)
quarta-feira, julho 10, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Leitora na carruagem do metropolitano, de pé, lendo livro (não identificado) de Orhan Pamuk.
Leitora na plataforma da estação do Campo Grande, subsequentemente na carruagem e novamente fora dela, de pé, lendo "Amor de Perdição".
A linha verde: onde os clássicos e os contemporâneos se encontram!
Leitora na plataforma da estação do Campo Grande, subsequentemente na carruagem e novamente fora dela, de pé, lendo "Amor de Perdição".
A linha verde: onde os clássicos e os contemporâneos se encontram!
sábado, julho 06, 2013
ESCOMBROS
Os leitores mais ou menos fiéis deste blog sabem que a política nacional é aqui um tema tratado de forma esparsa, se não mesmo bissexta. A semana alucinante que o país acabou de viver, apesar da intensidade das emoções, não foi de molde a encorajar-me à prolixidade. Não é que não haja muito para dizer; certamente que HÁ muito para dizer. Sucede que esse muito que há para dizer já foi sendo dito, com várias gradações de incredulidade e escândalo, por batalhões de comentadores e pelas redes sociais. O que resta são escombros, inqualificáveis e indescritíveis, os escombros da credibilidade de que este governo ainda usufruía. Os mais militantes, ou aqueles que estão obrigados profissionalmente a comentar e analisar, irão ainda discutir longamente qual foi exactamente a proporção de inépcia, spin, choque de egos, putsch canhestro e estratégia nos acontecimentos da última semana. Por mim, o caso está encerrado. A não ser que o senhor Presidente da República sofra uma convulsão de lucidez, vamos ver perpetuar-se um governo que estará permanentemente à mercê dos humores de um ministro de Estado, sem qualquer garantia de estabilidade, resultante de uma espécie de tratado de Tordesilhas cozinhado à pressão e sob chantagem.
Acrescento apenas isto, redundante mas demasiado chocante para passar em claro. Tendo acompanhado a vida pública de Paulo Portas ao longo de mais de 20 anos, acreditava ter formado uma ideia aproximada do que ele era capaz, mas eis que ele se ultrapassa. Chega a ser arrepiante, para além de ofensivo para o pudor, presenciar os extremos de ignomínia e falsidade que uma pessoa atinge para satisfazer a sua ambição de poder. Apetece formular a pergunta fatídica: «Como é que ele consegue dormir»? Mas não me parece que se justifiquem inquietações acerca da qualidade do sono do futuro vice-primeiro-ministro.
Acrescento apenas isto, redundante mas demasiado chocante para passar em claro. Tendo acompanhado a vida pública de Paulo Portas ao longo de mais de 20 anos, acreditava ter formado uma ideia aproximada do que ele era capaz, mas eis que ele se ultrapassa. Chega a ser arrepiante, para além de ofensivo para o pudor, presenciar os extremos de ignomínia e falsidade que uma pessoa atinge para satisfazer a sua ambição de poder. Apetece formular a pergunta fatídica: «Como é que ele consegue dormir»? Mas não me parece que se justifiquem inquietações acerca da qualidade do sono do futuro vice-primeiro-ministro.
PÉROLAS DA PARIS REVIEW
JOHN CHEEVER: The legend that characters run away from their authors - taking up drugs, having sex operations, and becoming president - implies that the writer is a fool with no knowledge or mastery of his craft.
(The Paris Review Interviews, Vol.3)
(The Paris Review Interviews, Vol.3)
PÉROLAS DA PARIS REVIEW
INTERVIEWER: Do you have a particular interest in psychology?
HAROLD PINTER: No.
("The Paris Review Interviews", Vol.3)
HAROLD PINTER: No.
("The Paris Review Interviews", Vol.3)
quarta-feira, julho 03, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
"O Príncipe", de Machiavelli, lido de pé por um passageiro da linha verde do metropolitano, decerto plenamente ciente de como a sua leitura em lugar público se adequa aos tempos que vivemos.
segunda-feira, julho 01, 2013
DEVE & HAVER
Ora então vejamos.
Num dos pratos da balança:
Num dos pratos da balança:
- Insistência inflexível na austeridade, para lá de tudo aquilo que o memorando impunha, com efeitos recessivos profundos à medida de multiplicadores barbaramente subestimados.
- Desvios sucessivos entre as previsões e a realidade, em todos os indicadores: défice, desemprego, PIB, receita fiscal.
- Dois orçamentos inconstitucionais dois.
- Rácio dívida pública/PIB sempre a crescer, apesar das doses cavalares de austeridade.
- Uma economia de rastos.
- Cinismo e insensibilidade no discurso: pode começar-se o florilégio por "Não fui eleito coisíssima nenhuma" e ir por aí fora, sem receio de que falte o material.
- Uma dicção irrepreensível.
- Dizem que tinha muitos amigos lá fora e que transpirava credibilidade.
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Leitora a ler "Crime e Castigo". Na linha verde do metropolitano, os clássicos nunca deixaram de estar na moda e nunca deixarão de estar!
FONTES
No Diário de Notícias:
SAÍDA DE GASPAR PROVOCA AUMENTO NAS TAXAS DE JURO DE PORTUGAL
com link para o Dinheiro Vivo, onde afinal de contas se lê
JUROS DA DÍVIDA MANTÊM-SE ESTÁVEIS APESAR DA SAÍDA DE GASPAR
Ou de como vale sempre a pena ir consultar as fontes.
SAÍDA DE GASPAR PROVOCA AUMENTO NAS TAXAS DE JURO DE PORTUGAL
com link para o Dinheiro Vivo, onde afinal de contas se lê
JUROS DA DÍVIDA MANTÊM-SE ESTÁVEIS APESAR DA SAÍDA DE GASPAR
Ou de como vale sempre a pena ir consultar as fontes.
sexta-feira, junho 14, 2013
MIL OLHOS
É continuar a tentar. O sucesso exige perseverança, esforço e alguma sorte.
Temos mil olhos, como o Dr. Mabuse. Mas há coisas que nos escapam, de vez em quando. Demasiados leitores e demasiados lugares públicos.
Temos mil olhos, como o Dr. Mabuse. Mas há coisas que nos escapam, de vez em quando. Demasiados leitores e demasiados lugares públicos.
quarta-feira, junho 05, 2013
DA CONCISÃO
Dois jovens de vinte anos passam o seu tempo nos cafés parisienses à volta de raparigas. Uma das tentativas de engate dá para o torto.
Este é sem dúvida um dos melhores resumos de filme que li em toda a minha vida, e olhem que não li poucos. É da autoria de Antonio Rodrigues e diz respeito ao filme "Du Côté de Robinson", de Jean Eustache. (Folhas da Cinemateca, Cinemateca Portuguesa, 2008.)
O facto de se aplicar igualmente a pelo menos 50 % dos filmes da primeira fase da Nouvelle Vague não lhe retira mérito.
sábado, junho 01, 2013
TELHADOS DE PELÍCULA ADERENTE DE MARCA BRANCA
A blogosfera favorece a preguiça. Após ter lido a crónica que Vasco Graça Moura perpetrou há alguns dias, na qual se insurgia contra a proliferação do insulto, cheguei a sentir vontade de meter mãos à tarefa de prospecção dos escritos pretéritos deste cavalheiro e recolher alguns exemplos em que ele próprio deixou fugir (e com que ardor!) o pé para a chinela do impropério. Tratando-se de um caso de contumácia que dura há anos, não faltaria a matéria prima. Demoveu-me a certeza de que alguém, algures, haveria de se dedicar a essa missão, sem dúvida com maior brio e exaustividade. Está feito. E estou certo de que o fundo da arca ficou ainda por raspar.
Vasco Graça Moura é uma figura que me deixa perplexo. Respeito o erudito, o tradutor de Dante e Shakespeare. Admiro a persistência com que tem combatido esse delírio disforme conhecido nalguns meios como "Acordo Ortográfico" e identifico-me com esse combate. Desprezo a criatura que, periodicamente, se entrega aos mais requintados e virulentos exercícios de vitupério dirigidos contra todos aqueles que não partilham das suas mundividências políticas e sociais, muito em particular todos aqueles que votaram PS ou que não consideram José Sócrates o português mais ignóbil desde Miguel Vasconcelos.
Vir agora esta mesmíssima pessoa mostrar surpresa por uma suposta "proliferação do insulto" seria chocante se não fosse, bem vistas as coisas, perfeitamente coerente com o seu défice de sintonia em relação à realidade que o rodeia.
Nem sequer se aplica a expressão "telhados de vidro". O vidro é um material nobre, versátil e mal servido pela sua reputação de fragilidade. Isto são telhados de hóstia, de película aderente de marca branca ou de papel higiénico de folha simples.
Vasco Graça Moura é uma figura que me deixa perplexo. Respeito o erudito, o tradutor de Dante e Shakespeare. Admiro a persistência com que tem combatido esse delírio disforme conhecido nalguns meios como "Acordo Ortográfico" e identifico-me com esse combate. Desprezo a criatura que, periodicamente, se entrega aos mais requintados e virulentos exercícios de vitupério dirigidos contra todos aqueles que não partilham das suas mundividências políticas e sociais, muito em particular todos aqueles que votaram PS ou que não consideram José Sócrates o português mais ignóbil desde Miguel Vasconcelos.
Vir agora esta mesmíssima pessoa mostrar surpresa por uma suposta "proliferação do insulto" seria chocante se não fosse, bem vistas as coisas, perfeitamente coerente com o seu défice de sintonia em relação à realidade que o rodeia.
Nem sequer se aplica a expressão "telhados de vidro". O vidro é um material nobre, versátil e mal servido pela sua reputação de fragilidade. Isto são telhados de hóstia, de película aderente de marca branca ou de papel higiénico de folha simples.
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