quarta-feira, maio 31, 2006

TUDO ISTO É TELHEIRAS: A Escola Alemã encontra-se, a partir de agora, totalmente abastecida por energia fotovoltaica. Numa nota bem diferente, mas igualmente venturosa, o café "Lapinha" (sito junto ao jardim da PSP) cumpre 20 anos de existência. Reclama-se o mais antigo de Telheiras. Às quintas-feiras, há leitão de Negrais. (Fonte: "ART Informação", da Associação de Residentes de Telheiras.)
XADREZ: É refrescante constatar o apoio que os portugueses têm oferecido aos membros da selecção portuguesa, enfeitando com garridos estandartes as varandas e janelas deste país, de Norte a Sul, sem esquecer as ilhas. Nada é demais quando se trata de encorajar os representantes de Portugal nas Olimpíadas de xadrez, em Turim! O nosso enviado especial a Turim não pode ser acusado de excesso de zelo. Nos últimos dias, quiçá desencorajado pelas prestações mornas dos xadrezistas lusos, permitiu-se mesmo umas pequenas férias, que aproveitou para visitar alguns dos expoentes mais reputados do estilo barroco piemontês. Mas ei-lo que regressa. Nas últimas quatro rondas, Portugal começou por perder (1-3) com a França, um resultado normal. Saliente-se, contudo, a excelente vitória de Diogo Fernando sobre Andrei Sokolov, antigo candidato (entretanto naturalizado francês) ao título mundial (perdeu, face a Karpov, em 1986, o match que lhe daria o direito de defrontar Garry Kasparov). Seguiu-se uma derrota tangencial com a equipa A da Itália, em que o único ponto positivo foi o triunfo de Paulo Dias sobre o mestre internacional Ennio Arlandi. Na 8ª ronda, tal como sucedera com a França, Portugal teve o azar de se ver emparelhado com uma selecção (Letónia) claramente superior, desejosa de recuperar na classificação. Jogando sem o seu elemento mais cotado (o grande-mestre Luís Galego), Portugal perdeu novamente por 1-3. Finalmente, na 9ª ronda, Portugal mediu forças com uma equipa claramente inferior, o Nepal, e fez aquilo que lhe competia: vitória em todos os tabuleiros (4-0), e o consequente pulo na classificação. Amanhã será a vez do Peru, que, excepção feita ao grande-mestre Julio Granda, é uma equipa perfeitamente acessível. No sector feminino, a equipa portuguesa segue um percurso regular, ao seu nível, sem sobressaltos de maior. Nas últimas quatro rondas, defrontou sucessivamente o Luxemburgo (empate), a Itália B (vitória 2,5-0,5), a Colômbia e a Noruega (duas derrotas 1-2). O cliente seguinte é o Bangladesh, uma equipa de nível semelhante ao de Portugal. Na classificação geral, a grande notícia é a surpreendente má forma da equipa masculina da Rússia, que perdeu hoje novamente, com a França, e que está na 4ª posição. Porém, falta ainda jogar muito xadrez, e o sistema suíço de emparelhamento presta-se a grandes reviravoltas nas últimas rondas. Continua a liderar a Arménia, seguida da China (sensacionais 4-0 hoje face à Geórgia) e da França. Em senhoras, o pódio está distribuído da seguinte forma: Ucrânia, Rússia e Geórgia.

segunda-feira, maio 29, 2006

BRINCANDO AOS CLÁSSICOS: Uma das obras que adquiri na Feira do Livro do Porto intitula-se "Receitas de Saladas com Massa". No dia seguinte a esta compra (de que estou longe de me arrepender), eis que, no Café Literário da mesmíssima Feira do Livro, avisto uma senhora que folheia um outro exemplar desse livro. Minutos depois, o Café Literário acolhia uma sessão que decorreu sob o signo das traduções de clássicos, e na qual tomaram parte Daniel Jonas, Frederico Lourenço, Gomes da Torre e Carlos Ascenso André. Mui secretamente, eu acalentava a esperança de que, entre fascinantes e densos discursos sobre Milton e Ovídio, algum dos oradores inserisse uma fugaz alusão à salada de aletria ramen com amêijoas e lulas. Porque há clássicos e clássicos.

quinta-feira, maio 25, 2006

XADREZ: Enquanto, no Europeu sub-21, os mediáticos "tuguinhas" se arrastam penosamente, em Turim as selecções masculina e feminina defendem as cores lusas, longe dos holofotes, longe do festival de papalvice que mais uma vez se arma em torno da bola redonda. Hoje, os xadrezistas portugueses enfrentaram selecções ao seu nível. Empate da formação feminina frente à Islândia, e uma boa vitória (2,5-1,5) dos homens face ao Canadá, com derrota de Diogo Fernando, empate de Luís Galego, e vitórias de António Fernandes e de Sérgio Rocha. Na frente, quase nada de novo. Rússia e Arménia mantêm liderança no sector masculino, com a Holanda a meio ponto. Nas senhoras, A Ucrânia bateu a Rússia, que agora lidera por apenas meio ponto.
O OUTRO LADO EXISTE: Qualificar a 1ª República de "regime terrorista" é situar-se para lá do exagero, para lá da atoarda, para lá da inverdade, para lá da provocação. É transpor com alacridade a fronteira da sanidade, e penetrar num terreno de delírio verborreico reservado a muitos poucos. Luciano Amaral ascende assim, com inegável brio, a um patamar até agora reservado a espécimes como Luís Delgado, João César das Neves e Helena Matos.

quarta-feira, maio 24, 2006

XADREZ: Na terceira ronda das Olimpíadas, a equipa masculina de Portugal sofreu uma derrota lógica (1-3) contra a Hungria; na quarta ronda, realizada hoje, registou-se uma vitória tangencial (2,5-1,5) sobre a Nova Zelândia, com Luís Galego a fornecer o ponto decisivo. No que toca à equipa feminina, a uma boa vitória (2,5-0,5) sobre o Sri Lanka, seguiu-se um contundente malogro (0-3) contra a Mongólia. Se bem que a selecção mongol fosse mais forte teoricamente, seria de esperar um pouco mais de resistência por parte das xadrezistas lusas. A Rússia lidera tanto em masculinos (neste caso em igualdade com a Arménia) como em femininos. Mais xadrez amanhã, sexta é dia de repouso. Continuem a contar com os relatos do nosso enviado especial a Turim. De momento, gatinhos perdidos e o jardim Ponge (agora coberto de ervas daninhas) perdem prioridade em favor das Olimpíadas. (No blog de Mig Greengard houve uma referência à notável vitória de Portugal sobre o Azerbeijão, na segunda ronda. «Other notable results include Azerbaijan getting spanked 3.5-0.5 by Portugal. Quick, name a player from Portugal. Exactly.» Apetece-me responder assim: "diga-me o nome de um grande-mestre norte-americano nascido nos EUA", já que a quase totalidade da equipa norte-americana é composta por expatriados.)

segunda-feira, maio 22, 2006

XADREZ: Adoro as Olimpíadas de xadrez! É a minha competição preferida. Neste torneio, cuja 37ª edição se está a realizar em Turim, as maiores estrelas do firmamento xadrezístico acotovelam-se com anónimos representantes de países como Honduras ou Etiópia, e o espírito de equipa, num desporto que é eminentemente individual, ganha relevo. Há dois anos, a Ucrânia conquistou o primeiro lugar, rompendo a quase absoluta hegemonia que a Rússia (e, antes disso, a U.R.S.S.) vinha mantendo. Este ano, será difícil alguém opor-se ao poderio da equipa russa, que se apresenta na máxima força, e é favorita em toda a linha. Também na máxima força (ou perto disso), apresenta-se a equipa masculina de Portugal, que começou de maneira pouco convincente (vitória tangencial sobre a fraca formação cipriota), mas que obteve hoje um retumbante êxito (3,5-0,5) contra o Azerbeijão, que, se bem que desfalcado da sua grande estrela (Teimur Radjabov), possui ainda um nível consideravelmente mais forte do que a equipa lusa. (Sinto mais vontade de pôr uma bandeira à janela em homenagem a Luís Galego, Rui Dâmaso e companheiros, do que a Cristiano Ronaldo, Luís "Agarrem-me Senão Eu Vou-Me Embora" Figo e seus partenaires. Adiante.) No que toca à equipa feminina de Portugal, após a esperada derrota (0-3) com a Rússia na primeira ronda, venceu hoje Malta pelo mesmo resultado: 3-0. A presença de uma equipa feminina portuguesa, só por si, é facto assinalável, face a ausências registadas em edições anteriores. Continuarei a tentar acompanhar o percurso das selecções portuguesas neste espaço. Esqueçam Évora! Esqueçam a Alemanha! Olhos postos em Turim! (Informações estatísticas muito detalhadas sobre as Olimpíadas aqui.)

domingo, maio 21, 2006

DA AUTO-CRÍTICA: Na página 222 do seu "Diário Remendado", Luiz Pacheco define-se a si próprio como um "libertino bota-de-elástico".

quinta-feira, maio 18, 2006

REVOLTA: O reatamento das corridas de touros em Lisboa é uma ignomínia revoltante. Se, como eu, acredita que enterrar ferros na carne de um animal, para gáudio de uma audiência alarve, não é actividade tolerável nem numa capital europeia nem em qualquer outra parte do mundo, evite frequentar as lojas que se abrigaram à sombra do renovado (mas ainda hediondo) torturódromo do Campo Pequeno. (O meu aplauso por este post no Aspirina B.)
TUDO ISTO É TELHEIRAS: Está anunciada para o próximo dia 20 uma festa escocesa (ceilidh) no Colégio Alemão. Que dizer? Grande bairro, Telheiras. Quem, vivendo neste bairro, se mudaria para outro bairro que não fosse este bairro?
TECLA: Declarações de Brian Eno a propósito das sessões de gravação do álbum "Low", de David Bowie: «He's very fast when he gets going, really a brilliant singer -I don't think people realise how finely he can tune his singing, in terms of picking a particular emotional pitch: it's really scientific, the way he does it. He'll say, 'I think that's slightly too theatrical there, it should be more withdrawn and introspective,' and he'll go in and sing it again, and you'll hear this point four of a degree shift which makes all the diference.» E eu acho que isto se assemelha a uma ambição para a vida: mecânica e espontaneidade, emoção e disciplina fundidos numa só postura; contrários que coexistem sem colidir, para lá da antonímia. Isto tem a ver com a tecla de Esther Kahn, a tal que, no fim do filme, ela descobre (para sua raiva e alívio) ser capaz de tocar a qualquer instante para suscitar em si mesma uma resposta emocional. (Não tenho o livro comigo, pelo que poupo o leitor à citação.)

quarta-feira, maio 17, 2006

PLAYLIST MENTAL: Durante o dia de hoje, a minha memória auditiva fez-me o favor de me brindar com repetições sucessivas desta frase de uma canção dos Belle Chase Hotel: «I'm the cleaning-lady of the broken-hearted.»

terça-feira, maio 16, 2006

A LER: Uma interessante digressão psicanalítica pelos meandros da mente carrilhiana, por alguém que, para além da Ópera, nos brinda volta e meia com os seus Demais Interesses.
NO SEU MELHOR: Luís Delgado no seu melhor: uma visão apocalíptica de um Irão apostado em desenvolver armamento nuclear para subjugar o mundo não islâmico, e "erradicar do mapa alguns países democráticos, como Israel e os EUA". Os ocidentais condenados a submeter-se ao fanatismo dos ayatollahs de Teerão à força de bombas antónias. Numa mão o Corão, na outra o míssil com ogiva. Luís Delgado parece alardear uma espontaneidade do disparate que, a meu ver, tem de ser enganadora. Parágrafos tão asininos não podem deixar de ser fruto de prolongado e meticuloso esforço. "Take pains; be perfect", diz Bottom em "A Midsummer-Night's Dream" (só me lembrei desta citação porque represento na peça, ah ah). Acho graça àqueles que nos massacram os tímpanos com alusões alvoroçadas à jihad e ao califado, sem serem capazes de indicar um único exemplo de acção militar expansionista de um país muçulmano contra um país dito "ocidental" nas últimas décadas. Não digo que o programa nuclear iraniano não seja um problema sério, mas há que encará-lo nas suas reais proporções.
O QUE HÁ NUM NOME?: Benoni é o nome da cidade sul-africana onde nasceu a famosa actriz Charlize Theron. É também o nome de uma conhecida (embora pouco praticada ao nível magistral) abertura de xadrez. Como se isso não bastasse, é ainda um dos nomes próprios do tristemente célebre marechal Pétain, e o título de uma obra do romancista norueguês Knut Hamsun. (Ver aqui.)
FELIZ ACASO NA REDE: Durante uma partida de xadrez online no Yahoo!, eis que o meu adversário francófono, ao aperceber-se do meu pseudónimo internáutico (que faz alusão ao mestre renascentista Lorenzo Lotto), comenta: "Grand peintre". Minutos depois, o amante de arte bate-me com serena facilidade. Mas creio que nunca na vida me senti tão bem depois de uma derrota em xadrez.

domingo, maio 14, 2006

PURPURINAS? QUE MÁXIMO! VOU JÁ CONTAR À XANA!: Ao fim de três representações do "Sonho", o palco do auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro assemelha-se a um oceano de purpurinas, tombadas do rosto das fadas e dos espíritos da floresta. Fico a saber que, na manhã seguinte, o mesmo auditório vai acolher a missa dominical (numa graciosa demonstração de compatibilidade entre poder autárquico e paróquia). Por momentos, imagino o rosto do sacerdote cintilante de purpurinas extraviadas, em plena homilia. Vozes clamando milagre. Um ressurgir de fé em toda a freguesia do Lumiar, quiçá em Portugal. Peregrinações. Fátima às moscas. Preços do comércio local incrementados por um factor de três. Mercearias reconvertidas em lojas de círios. (Não falemos sequer da possibilidade de algum adereço pouco solene, como as orelhas de burro de Bottom, ter ficado esquecido num local inoportuno.)
IF WE SHADOWS HAVE OFFENDED: O grupo de teatro amador "Teatro à Parte" produz neste momento a peça de Shakespeare "Sonho de Uma Noite de Verão", com encenação de Jorge Parente. As representações têm lugar no auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Telheiras, Lisboa. Três delas já lá vão; as restantes ocorrerão no próximo fim-de-semana. O autor destas linhas faz parte do elenco, mas apressa-se a esclarecer, para alívio geral, que o seu papel é demasiado pequeno para que as probabilidades de arruinar por completo a peça sejam significativas.
A COR DA SOMBRA: Na linha que este blog tem vindo a cultivar desde o início, de concisão elíptica proporcional à magnitude íntima dos acontecimentos que a vida (essa mesma) acha por bem resgatar à improbabilidade, marco o fim deste período de silêncio com mais um quadro de Barnett Newman!

(Barnett Newman, "Canto II", 1963)