domingo, junho 25, 2006

FORMA & FUNÇÃO: Há anos que utilizo escovas de dentes Aquafresh, e só agora percebi que a parte de trás com as estriazinhas serve para limpar a língua.

quarta-feira, junho 21, 2006

XADREZ: Conforme prometido (pelo menos acho que prometi), aqui fica um rescaldo das Olimpíadas de Xadrez de Turim. Pódio (sector masculino): 1º Arménia, 2º China, 3º E.U.A.. Vitória convincente da Arménia, nação que deu ao mundo o antigo campeão mundial Tigran Petrossian (que jogava sob as cores da U.R.S.S.), e que nunca deixou de ser uma potência da modalidade. Liderada pelo nº 3 do mundo Levon Aronian, a Arménia mostrou ser uma selecção compacta e regular, com todos os seus jogadores em grande momento de forma. Surpresas agradáveis: Hungria (com uma equipa muito desfalcada, conseguiu guindar-se à 5ª posição), República Checa (terminou em 11º, mas chegou a ameaçar os lugares cimeiros) e Uzbequistão. A principal desilusão foi, sem dúvida, a favoritíssima Rússia, que nunca convenceu, e que se afundou nas últimas rondas até uma impensável 6ª posição (e ex aequo com o 10º, a Espanha). A única boa notícia para os russos foi o regresso em bom nível de Vladimir Kramnik (campeão do mundo oficioso, afastado devido a doença nos últimos meses). Outras desilusões: Índia (2ª do ranking e que acabou em 30º...), Inglaterra e Azerbeijão. Pódio (sector feminino): 1º Ucrânia, 2º Rússia, 3º China. Também aqui a Rússia era favorita, também aqui ficou arredada da medalha de ouro, se bem que neste caso tenha estado mais próxima da vitória. A aposta, por parte da Ucrânia, de colocar Natalia Zhukova no 1º tabuleiro, apesar de ser só a 3ª da equipa em termos de ranking, resultou em pleno. Uma referência muito especial merece a equipa chinesa, medalhada de bronze. Este resultado é tanto mais espantoso quanto a China prescindiu das suas principais estrelas nesta competição. Por fim, uma chapelada ao jornal austríaco Wiener Zeitung, que, tal como sucedera na edição anterior das Olimpíadas, apresentou informações estatísticas completíssimas e actualizadas diariamente sobre o evento. O ou os responsáveis por tão exaustiva compilação ocupam, estou certo, um cantinho muito especial no coração de muitos aficionados de xadrez por esse mundo fora. (Em breve, o balanço da presença portuguesa nestas Olimpíadas.)

terça-feira, junho 20, 2006

MALHAS QUE O DUALISMO TECE: Feira do Livro do Porto, num domingo recente. A conversa entre José Saramago e Gonçalo M. Tavares inicia-se com 40 minutos de atraso, sem um único pedido de desculpas, e sem que da audiência expectante tenham surgido sinais de impaciência demasiado conspícuos. Mas adiante. Valeu a pena aguardar, quanto mais não fosse para presenciar a enérgica intervenção de uma participante, que, na sequência de uma intervenção de GMT sobre a impossibilidade de "desenhar a alma", afirmou que tal empreitada era escusada porque corpo e alma constituíam um só. Ou talvez fosse precisamente ao contrário. A interveniente não falou para o microfone, e as suas palavras perderam-se. Existe um conto de Barthelme no qual a nave Pioneer 10 fotografa duas almas humanas a caminho do Céu. As fotografias são pouco atraentes, ou mesmo vagamente repulsivas.
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS:
  1. Um voyeur de leituras em lugares públicos é obrigado a apurar o seu sentido de observação, e não irá longe se não for capaz de reconhecer padrões e cores de capas e contracapas, fontes de letra, manchas gráficas, etc., e isto parecendo não querer a coisa, mas querendo a coisa (está bem de ver). Há dias, na linha amarela do metropolitano, o subtil verde das edições de bolso da Mondadori saltou-me à vista. Mal ousando crer na minha sorte, mantive a calma até estar em condições de identificar título e autor. Dino Buzzati, "Un Amore", precisamente o último romance deste autor, e em versão original! Se a isto juntarmos que a leitora estava de pé, e que, dentro de um saco de plástico transparente, guardava um livro de Montesquieu (que não pude identificar), ouso crer que 50 pontos de bónus são amplamente justificados.
  2. No aeroporto de Fiumicino, em Roma, um cavalheiro lia as "Pensées" de Pascal.
  3. Na linha verde do metropolitano, uma senhora lia a "Utopia", na edição de bolso da Europa-América.
ROLL OVER, JEAN COCTEAU!: Ontem, ao ligar a televisão, eis que me entra pela casa adentro o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa discorrendo sobre as virtudes e limitações do meio-campo da selecção ucraniana, e assim dando novo significado ao termo touche-à-tout. (E o "Xô Professor" fazia-o com a mesma convicção e loquacidade apaixonada com que opina sobre a separação de poderes e o congresso do CDS-PP.)

domingo, junho 18, 2006

REGRESSO: Regresso após uma semana passada em Florença. Sobre as virtudes e pontos débeis desta esplêndida cidade espero poder escrever nos próximos dias. De momento, limito-me a elencar uns quantos fenómenos que nem ao mais desatento visitante poderiam ter escapado:
  1. Um enorme enxame de abelhas que, em plena Piazza della Signoria, obrigou à intervenção da polícia e de um apicultor nessa zona de intensa concentração de turistas. De acordo com a minuciosa crónica de um periódico local, o enxame começou por se concentrar na base da estátua de Judite e Holofernes, tendo-se mais tarde deslocado para junto de uma das ninfas da fonte de Neptuno, antes de ser capturado.
  2. Uma pizzeria sem pizzas na ementa (mas com um excelente polvo salteado em vinho branco e tomate).
  3. Livrarias de fazer explodir de inveja qualquer português dado aos delicados prazeres da leitura.
  4. Insuportáveis bandos de estorninhos produzindo estridente algazarra.
  5. Uma partida de calcio storico que terminou em zaragata generalizada. O calcio storico é um antepassado do futebol, ressuscitado todos os anos sob a forma de um torneio quadrangular entre bairros florentinos, na praça junto à igreja de Santa Croce. A reputação de violência desta modalidade foi, este ano, confirmada para lá de todos os limites do razoável, obrigando à intervenção da polícia (mas não de um apicultor, ver ponto 1) e à suspensão da partida e do torneio. Foi para mim, de certa forma, um alívio saber que aquilo que se passou (e a que assisti parcialmente através da televisão) não era uma partida normal. Por momentos, cheguei a recear que o calcio storico fosse aquilo: uma refrega entre rufiões.

sexta-feira, junho 09, 2006

DESENHAR A ALMA: Nos últimos dois dias, as arreliadoras intermitências do Blogger impediram-me de escrever. Amanhã, partirei para a cidade de Dante Alighieri, pelo que o rescaldo final das Olimpíadas de xadrez (ganhas pela equipa masculina da Arménia e pela equipa feminina da Ucrânia) terá de esperar, assim como o apaixonante relato de uma intervenção sobre a possibilidade de desenhar a alma, em plena conversa entre Saramago e Gonçalo M. Tavares, na Feira do Livro da Invicta.

segunda-feira, junho 05, 2006

AS PALAVRAS E AS COISAS: Para uma pessoa que nunca saboreou a iguaria, é natural que a frase "plumas de porco preto" evoque fantásticas visões de suínos alados, e que a Odisseia e a sinistra Circe acorram ao seu espírito. E se, para cúmulo, o conviva à sua frente, depois de ter anunciado que vai pedir o prato em questão, acabe (sub-repticiamente) por mandar vir um maciço e imponente naco de picanha, não é de admirar que a reacção dela seja de choque, devidamente complementado pela convicção de que tão colossal pluma desafia a lei da gravidade. (Baseado numa história verídica.)
O ESTADO-ABERRAÇÃO: Na sua crónica de 6ª feira passada, José Miguel Júdice partilha os frutos da sua reflexão sobre "microestados inviáveis", "sem as mínimas condições para [serem] país[es] soberano[s]", sem "escala nem dimensão suficientes", e que, por isso, são "palco de lutas fratricidas". Curiosamente, em todo o artigo não há uma única referência ao Vaticano, a quem estas considerações se aplicam que nem luva de pelica.

quinta-feira, junho 01, 2006

XADREZ: Custou muito a engolir, ao nosso enviado especial às Olimpíadas de Xadrez em Turim, a derrota da formação masculina portuguesa face ao Peru. Entretanto, a equipa feminina empatava com o Bangladesh. O dia de hoje foi de descanso, e de preparação para as três rondas seguintes, que vão decidir tudo o que há para decidir. Os clientes seguintes são a Síria (homens) e a Venezuela (senhoras). Força, Portugal! Mesmo sem recepção no palácio de Belém, sem ocas palavras de circunstância do primeiro-ministro, e mau grado a indiferença da imprensa, vocês estão a dar o vosso melhor, e é isso que conta.
EU QUE ME COMOVO POR TUDO E POR NADA: Não me perguntem a razão, mas comovo-me um nadinha de cada vez que vejo um taxista de gravata.