domingo, julho 30, 2006

XADREZ: Foi prometido, e é cumprido, se bem que com o atraso normal neste blog. Aqui está o rescaldo final da participação portuguesa nas Olimpíadas de xadrez de Turim. Jornada a jornada, foram os seguintes os resultados da selecção portuguesa no torneio absoluto (também dito "masculino", erradamente, pois nele se registaram pelo menos cinco presenças femininas): Chipre-Portugal 1,5-2,5 Portugal-Azerbeijão 3,5-0,5 Portugal-Hungria 1-3 Nova Zelândia-Portugal 1,5-2,5 Portugal-Canadá 2,5-1,5 França-Portugal 3-1 Itália A-Portugal 2,5-1,5 Portugal-Letónia 1-3 Portugal-Nepal 4-0 Peru-Portugal 3-1 Síria-Portugal 0-4 Portugal-Sérvia e Montenegro 1-3 Portugal-República Dominicana 2,5-1,5 Portugal esteve aproximadamente ao nível esperado, tendo terminado a prova em 50º lugar (era 48º no ranking das selecções participantes), entre 150 equipas. No "sobe e desce" habitual em torneios disputados no sistema suíço, Portugal mostrou-se incapaz de surpreender as selecções mais cotadas (França, Hungria...), mas raramente deixou de se impor às equipas mais débeis. Quanto a actuações individuais, o equilíbrio foi a nota dominante. Nenhum dos xadrezistas portugueses se destacou pela positiva, e só o mestre internacional Sérgio Rocha esteve bastante abaixo do seu nível. (No entanto, refira-se que o seu fraco resultado se deveu fundamentalmente à derrota, logo na primeira jornada, com um cipriota muito menos cotado.) Melhor resultado colectivo: vitória 3,5-0,5 sobre o Azerbeijão, uma equipa poderosa mesmo sem os seus tenores Radjabov e Mamedyarov. Piores resultados colectivos: vitória tangencial sobre a paupérrima equipa de Chipre, e derrota face ao Peru. Melhores resultados individuais: vitórias do mestre internacional Diogo Fernando sobre os grandes-mestres Guseinov (Azerbeijão) e Sokolov (França). No que toca à competição feminina, os resultados das portuguesas foram os seguintes: Rússia-Portugal 3-0 Malta-Portugal 0-3 Portugal-Sri Lanka 2,5-1,5 Mongólia-Portugal 3-0 Portugal-Islândia 1,5-1,5 Portugal-Luxemburgo 1,5-1,5 Itália B-Portugal 0,5-2,5 Portugal-Colômbia 1-2 Noruega-Portugal 2-1 Bangladesh-Portugal 1,5-1,5 Portugal-Venezuela 2-1 Portugal-Uzbequistão 1-2 Macedónia-Portugal 0,5-2,5 Graças a esta bela vitória final sobre a Macedónia, Portugal concluiu o torneio na 47ª posição (era 53º no ranking), entre 108 selecções. Os resultados da equipa portuguesa feminina, que raramente fugiram ao esperado, foram relativamente homogéneos, não havendo lugar a destaques individuais. Uma nota para a baixa média de idades desta equipa (o que contrasta com o sector masculino, onde a renovação tem sido lenta): Catarina Leite nasceu em 1983, Margarida Coimbra também em 1983, Ariana Pintor em 1988 e Ana Filipa Baptista em 1990. Segui este torneio com muito prazer, e só lamento que os inevitáveis afazeres extra-blog não me permitam repetir a graça com maior frequência. Não deixei na altura, nem deixo agora, de acompanhar esta pequena promoção ao xadrez com um grito de revolta pela absurda desproporcionalidade de cobertura mediática entre o omnipresente futebol e outras modalidades. Para terminar, duas fotografias: a primeira do confronto entre Portugal e França, na sexta ronda:

(fotografia de Gabriele Grasso, retirada daqui)

Do lado português, à esquerda, vêem-se Luís Galego (em primeiro plano), Diogo Fernando e Sérgio Rocha (Rui Dâmaso está oculto ou ausente). Do lado francês, Étienne Bacrot, Andrei Sokolov, Laurent Fressinet e Maxime Vachier-Lagrave.

A segunda mostra Margarida Coimbra, segundo tabuleiro da formação portuguesa:

(foto de Pufichek; mais imagens de participantes nas Olimpíadas aqui).
PLAYLIST MENTAL: Gosto muito do tema "Being Tyler", um instrumental dos Lambchop que abre o álbum "Awcmon". "Gostar", pensando bem, peca por inadequação. Muito mais do que "gostar", deixei-me (sem me rebelar) obcecar por este tema. Que é portador de significados pessoais, sem dúvida, mas que nunca se esquece de ladinamente brilhar com fulgor próprio, independente de circunstâncias do domínio privado.
REVISÕES DO REVISIONISMO: Foi gratificante percorrer alguns dos posts recentes que versaram sobre o tema da Guerra Civil Espanhola, que eu abordei há coisa de uma semana e picos. Se não servirem para mais nada, ao menos que as efemérides sirvam para atiçar o debate. Ver aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui, com as minhas desculpas pelas eventuais omissões. Vasco Pulido Valente dedicou uma crónica ao assunto (mais concretamente, à lei das vítimas da guerra civil), e a resposta de João Paulo Sousa surgiu pronta e em cheio no alvo.

quarta-feira, julho 26, 2006

AD HOMINEM: Pelos vistos, a gatinha Goneril faz parte daqueles que encaram com crescente cepticismo a actuação da Organização das Nações Unidas no conturbado mundo em que vivemos. Esta noite, atacou selvaticamente a imagem do secretário-geral Kofi Annan, na televisão da sala.
CONSTITUCIONALISTAS NAS HORAS VAGAS: O CDS-PP é atravessado por interessantes intermitências, no que toca à lei fundamental da República Portuguesa. Regra geral, denuncia a Constituição como um empecilho à modernização do país, um detestável resquício marxista, uma anacrónica camisa de forças de que urge libertarmo-nos. E contudo, não hesita em brandir essa mesma Constituição como uma referência moral e legal absoluta, quando se trata de investir contra leis como a da procriação medicamente assistida, que recentemente levantou alguma celeuma. Dá gosto ver um partido da nossa democracia dar mostras de tamanha maleabilidade, condição sine qua non para o sucesso num mundo em cada vez mais acelerada mutação.

quarta-feira, julho 19, 2006

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Na linha amarela do metropolitano, foi avistado um jovem que lia o 1º Volume dos Contos de Chekhov. Era só isto.

domingo, julho 16, 2006

ANÚNCIO DE GATO ENCONTRADO (AUTÊNTICO): Encontrados por mão amiga, num telhado de Alenquer. Instalados em Lisboa, chamam-se agora Goneril (em homenagem ao Rei Lear) e Jasmim (em homenagem ao chá, e, porque não, ao cenógrafo do filme "O Bobo"). A gatinha Goneril (em primeiro plano, na fotografia) demonstra grande interesse por televisão. O conteúdo moral das emissões é, para ela, motivo de preocupação. Durante o "Fiel ou Infiel", arranhava freneticamente o ecrã durante o flagrante delito de infidelidade. Menos dado ao fascínio do espectáculo mediático, o gatinho Jasmim (ao fundo) tem como principal ambição na vida penetrar em tudo o que é armário, despensa ou compartimento. Sarah Morton acha que ele é um lémur.
O INVERSO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA: Um regime democraticamente eleito, com instituições que funcionam, é derrubado por uma sublevação militar que, ao fim de uma guerra civil sangrenta, resulta numa ditadura que se prolonga durante décadas. Poderá isto não ser considerado uma derrota da democracia? Parece impossível, não é? Porém, nas mãos hábeis de Luciano Amaral, o difícil torna-se fácil. Na sua última e enérgica intervenção, publicada no "DN" da passada quinta-feira, Luciano Amaral debruça-se sobre a queda trágica da 2ª República Espanhola e sobre a Guerra Civil ganha por Franco. Agitando o espantalho histórico do radicalismo, evoca as revoltas de 1934 e a inflitração marxista-leninista para sustentar a tese de que uma ditadura de esquerda teria estado iminente. Nessas circunstâncias, compreende-se que o franquismo possa ter sido considerado um mal menor. Luciano Amaral limita-se veladamente a reciclar o clássico argumento de que uma ditadura pode ser preferível ao caos que a precedeu, argumento que, na prática, permite justificar todas as ditaduras. Não é a primeira vez que Luciano Amaral se dedica ao revisionismo histórico, com uma felicidade que, desgraçadamente, não está à altura das suas ambições. Há semanas, tinha-nos brindado com uma reapreciação do 28 de Maio, à luz do carácter "terrorista" da 1ª República. Pelo andar da carruagem, se Luciano Amaral prosseguir na veia das efemérides, lá para Setembro teremos direito à apologia de Pinochet à luz dos desmandos allendianos. Sem dúvida por desleixo, Luciano Amaral deixou passar o aniversário do armistício franco-alemão de 1940. Teria sido a ocasião certa para reavaliar o governo de Vichy (parece até que estou a ver o título, qualquer coisa como "A Frente Popular estava mesmo a pedi-las"). A prosa de Luciano Amaral insere-se naquela linha fundada pelo "Independente", e que se baseia fortemente na contestação àquilo que é visto como um sistema de valores vigente, um sistema inevitavelmente "bem pensante" e "politicamente correcto". É triste constatar, quando se percorre um artigo desta escola, que, por detrás das provocações mais ou menos adolescentes, e da auto-satisfação que decorre desse papel de paladinos da verdade doa-a-quem-doer, o que resta é uma argumentação frouxa, maliciosa, omissa e previsível.

sexta-feira, julho 14, 2006

CINEMA: Do filme "Diários da Bósnia", afirma Eurico de Barros, no "DN" de hoje, que o realizador, Joaquim Sapinho, "não optou por tomar partidos nem pregar aos espectadores". O leitor atento recorda-se da primeira vez em que Eurico de Barros empregou estes termos, ou outros aproximadamente equivalentes, para exprimir a sua aprovação crítica? E será afoito o bastante para estimar quantas vezes reincidiu neste tipo de apreciação? Que Eurico de Barros desconfia de ideologias e vomita todo o cinema militante, é algo impossível de ignorar. Que se sirva da maior ou menor tendência de um filme para tomar partido ou defender uma tese como factor de valorização crítica, parece-me aceitável. Que eleve esse vector a critério principal, e muitas vezes único, das suas recensões, eis o que se torna francamente empobrecedor, para não dizer obsessivo. Num meio mais dado a exercícios meritocratas, já há muito alguém se teria aproximado de Eurico de Barros, com a piedosa missão de lhe dar a entender que, como dizer?, aquilo que ele faz não chega. Reacções viscerais, ódios de estimação e recusa sistemática de tudo o que remotamente cheire a "politicamente correcto" não fazem uma crítica, por mais vivaça que seja a prosa. Analisar e aprofundar também podem fazer parte do trabalho do crítico.
14 DE JULHO É REVOLUÇÃO: Num símbolo, cabe aquilo que cada um quiser. A tomada da Bastilha não foi um momento absolutamente determinante no desenrolar da Revolução Francesa. Outras datas, como o juramento do Jeu de Paume, ou a instauração da Primeira República, vêm à ideia quando se procuram acontecimentos fulcrais deste período. Mas talvez a sua relativa (sublinho o "relativa") irrelevância histórica tenha contribuído para reforçar a sua carga simbólica. Num símbolo, cabe aquilo que cada um quiser. Assim, aqueles que viram (apetecia-me usar o presente em vez do pretérito) na Revolução a fonte de todos os horrores da modernidade, associam ao 14 de Julho tudo aquilo que a França conheceu de atroz durante esses anos: os sangrentos excessos do Terror, a tirania, o caos institucional. Eu prefiro recordar que esta data, e a bandeira tricolor, e mais uns quantos símbolos, poderosos pela sua simplicidade, serviram de inspiração a muitos homens e muitas mulheres que ajudaram a libertar a Europa de tiranias e prepotências, e que contribuíram para a conquista de liberdades que todos nós, hoje, encaramos com tanta naturalidade como se fossem acidentes da paisagem. Em tempos, estranhei que a Revolução Francesa fosse tomada como a baliza que marcava o início da história contemporânea. Hoje, essa convenção parece-me auto-evidente. Quase tudo começou aqui. Os conceitos fundamentais da política moderna, da cidadania, dos direitos humanos, nasceram aqui, ou daqui retiraram impulso decisivo. E isto já não tem a ver com símbolos.

terça-feira, julho 11, 2006

DOIS LAPSOS DE LINGUAGEM, DOIS:
  1. Em mais uma reportagem de um canal televisivo sobre o Mundial, o locutor, arfando improvisados lugares-comuns, declarou a páginas tantas que "Portugal tinha ganho respeito pelos alemães", querendo dizer (mas isto sou eu a supor, claro) que "Portugal tinha ganho o respeito dos alemães".
  2. Numa entrevista ao grande-mestre de xadrez norte-americano Maurice Ashley, menciona-se o Aikido como sendo uma "marital art".

sexta-feira, julho 07, 2006

JARDIM PONGE: À míngua de tempo para tratar do meu Jardim Ponge, agora transformado em selva, recorro à sub-contratação: «Disso é exemplo a poética de Francis Ponge: ao propor-se tomar o partido das coisas, que é também ter em conta a linguagem, ela responde à exigência de interromper a relação sujeito-objecto e desse modo abandonar a doxa, os valores que a constituem, e que são já uma significação imposta a partir daquele tipo de polaridade, um modo de parar a relação com o exterior. Pretender "tomar o partido das coisas" é antes de mais conceber o valor da decisão fora de qualquer arrogância subjectiva (individual ou colectiva). A poesia vale, testemunha o que vale, porque, diz Ponge, "há no homem uma faculdade (não reconhecida precisamente como tal) de perceber que uma coisa existe justamente porque ela será sempre incompletamente redutível ao seu espírito".» (Silvina Rodrigues Lopes, revista "Intervalo", nº 1)
OS ROUBADORES DE ÁGUA: Este post não é sobre João Miguel Fernandes Jorge, mas sim sobre o número 9 da revista "Aguasfurtadas", cuja data de lançamento estava marcada para ontem, dia 6. Não estive presente, espero que tenha sido de arromba. Penitenciando-me pelo atraso, não me parece que seja inoportuno recordar que este número 9, disponível nas livrarias e através de pedidos directos para jup@jup.pt, é um número que promete, e senão vejamos: inclui textos de Inês Lourenço, Tiago Gomes, Rui Lage, Pedro Ribeiro, Marcelo Rizzi, Adrienne Rich, Virginia Woolf, Filipe Guerra, entre muitos outros, para além de trabalhos inéditos de vários fotógrafos e artistas plásticos, e ainda um CD com obras de Alexandre Delgado, Ruben Andrade, Dimitris Andrikopoulos e do grupo de jazz Espécie de Trio. O Leitor pode (e deve) roubar 35 segundos à sua frenética agenda para assistir ao primeiro vídeo de promoção deste número nove, aqui:http://www.youtube.com/watch?v=MZ4rtoXgMfw. Durante anos fui obcecado pelo número 9, por causa da "Vida Nova" do Dante, esse Guelfo Branco no meio de Guelfos Negros.

segunda-feira, julho 03, 2006

CINEMA: Revisitando "Eyes Wide Shut": Tornou-se um lugar-comum afirmar dos grandes filmes que permitem ao espectador descobrir coisas novas a cada visionamento. "Eyes Wide Shut" é candidato a excepção. Ao revê-lo, instala-se em mim a convicção de que o último filme de Kubrick nada mais tem para revelar. Não existem nuances por explorar, nem detalhes ocultos que apenas a atenção do espectador avisado permitisse isolar. Tudo funciona como se o filme tivesse feito o seu trabalho, e, nos visionamentos subsequentes, actuasse como um memento de si mesmo, uma máquina evocadora dos sórdidos fantasmas que são a sua própria substância. Na sua lisura, na sua glacial opacidade, "Eyes Wide Shut" devolve ao espectador a missão de enfrentar as suas inquietações, e de, por sua conta e risco, esboçar uma tentativa de fazer sentido daquilo a que assistiu. Repare-se no olhar apreensivo de Tom Cruise. Ele teme pelo seu casamento, pela sua integridade física, e talvez pela sua sanidade mental. A aventura nocturna do Dr. Harford foi mais do que uma fantasia: aconteceu realmente, como o demonstram a máscara, o envelope que lhe é entregue através das grades do portão da mansão, e outros elementos. E, contudo, somos levados a pensar que aquela sucessão de peripécias grotescas e fantásticas (o encontro com a prostituta, a palavra de passe, a orgia mascarada) são demasiado típicas da imaginação perversa de um homem atormentado pelo ciúme e pela tentação do adultério para que possamos acreditar nelas. Com sobriedade, Kubrick coloca-nos num plano infinitamente mais subtil do que a simples dicotomia sonho/realidade. Talvez a angústia do Dr. Harford seja suficientemente potente para transtornar a narrativa que ele habita. Ao transformar uma simples visita à casa de um doente, acabado de falecer, numa rocambolesca e perigosa odisseia, a personagem subverte de dentro para fora a própria ficção que o envolve. E o filme "mais não é" do que a crónica passiva dessa suprema subversão. Mas também pode ser muito mais do que isso. Não vale a pena é contar com indícios, dicas ou degraus. O que houver para descobrir não se encontra nas ruas daquela Greenwich Village de pacotilha, nem no semi-luxo doméstico da casa dos Harfords. Cabe ao espectador fazer a sua própria viagem até ao fim de alguma coisa. Ou então (sem dúvida mais cómodo), lembrar-se de que se trata "apenas de um filme" e regressar ao que interessa realmente (refiro-me à vida).
O VEREDICTO: Por norma, falta-me a paciência para estes testes, que fazem as delícias dos meus colegas bloggers. Mas a este não resisti:
Você é A Cabana. Você é o típico melancólico, que gosta de pensar e repensar na vida. Romântico, adora cenários intimistas e pela-se pela doce amargura de um coração partido. Na cabana Junto à praia Entre as dunas e os canaviais Só o vento E o mar E as gaivotas Falam desse amor (Via "Simples Sopros".) E, a propósito, terei sido eu o único a reparar que os assobios larocas da canção "Love Generation" de Bob Sinclar apresentam semelhanças suspeitas com o "Como o Macaco Gosta de Banana"? Até quando permitiremos que os estrangeiros pilhem impunemente aquilo que é nosso?
INFERÊNCIA: Alexandra Teté, da Associação Mulheres em Acção, afirma ("Metro" de 29 de Junho) que "A vida tem a mesma dignidade desde a concepção até aos 90 anos", fim de citação. Daqui se conclui que um nonagenário tem menos dignidade do que um embrião.
LONGE DA VISTA: No "Metro" de hoje, chamou-me a atenção um anúncio de recrutamento de operadores de call-center em que um dos requisitos é "imagem cuidada". Talvez seja ingenuidade minha, mas alimento certas dúvidas sobre a necessidade de um operador de call-center ter "imagem cuidada". Vem-me à memória uma cena desopilante de "Radio Days" (que, por sinal, está longe de ser dos meus Woodies preferidos), em que uma das personagens manifesta indignação por a mulher (?) admirar um ventríloquo que ela só conhece através da rádio.
SEM DESCULPA: Coloco fim a um hiato de mais de uma semana sem escrever, desta vez sem desculpa nem atenuante, a não ser a absoluta falta de assunto. O que nem é dos menos válidos motivos, convenhamos. (Aos espíritos apressados, apelo a que não sejam tentados a deduzir que a presente retoma é sintoma de ter algo de inadiável para transmitir. Um blog que tem medrado sob o signo dos bolos de arroz e da estátua do Doutor Sousa Martins não se acanha em investir no supérfluo.)