quarta-feira, março 28, 2007

A DOIS MINUTOS DOS GELADOS BEN & JERRY'S: No próximo sábado, dia 31, a partir das 18h30, estarei presente na sessão "Instantâneos da Nova Ficção Portuguesa", no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa. Estarei na boa companhia de Cláudia Clemente, José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares, a quem caberá dizer coisas interessantes sobre a ficção portuguesa, ao passo que eu trarei CDs de música dos anos 80 para animar a malta, como por exemplo Human League, ABC, Frankie Goes to Hollywood, Propaganda e Housemartins.

terça-feira, março 27, 2007

CINEMA: «Falling in love with style is a temptation a critic learns to be wary of: it's easy to be bedazzled by a film's rhetoric before you even think of asking whether it has anything to say. But why shouldn't a film's content primarily, or totally, consist of the way it writes itself on to the screen? Curiously, while it is generally seen as legitimate in critical circles to esteem certain examples of genre cinema precisely because they foreground style (John Woo, Michael Mann, Park Chan-wook...), self-consciously extravagant style is often frowned on when a film is perceived as sailing under an arthouse flag.» (Jonathan Romney, "Sight & Sound", Abril 2007, a propósito de um filme de Paolo Sorrentino que eu não vi.) Poderia ser um manifesto, que eu subscreveria sem hesitar, palavra por palavra, com a possível excepção de "extravagant".

segunda-feira, março 26, 2007

A NÃO PERDER: Os textos de João Lopes sobre o último Moretti. (Ainda não vi, mas tenho quase a certeza de que vou gostar.) Dos 5 prometidos, já tivemos direito ao primeiro e ao segundo. Esperamos o terceiro, o quarto e o quinto.
BRANDA SEVERIDADE: Em mais uma das suas imperdíveis crónicas da 2ª feira, João César das Neves, num esmerado exercício de auto-vitimização em que é useiro e vezeiro, fala-nos de um "racismo", dirigido à crença, que grassa na sociedade de hoje; fala-nos de uma Igreja contra a qual existe "desconfiança latente" e "severidade". Provavelmente por habitar em paragens muito longínquas, ou numa cave insonorizada com água potável e conservas para uma vida inteira, JCN ignora que vive numa sociedade que não só não discrimina os crentes, não só não dá mostras de severidade para com a Igreja, mas que, pelo contrário, a trata com uma benevolência que roça, por vezes, a subserviência. Pode até dar-se o caso de JCN ter ouvido falar de um país, chamado "Portugal", no qual a perseguição aos crentes não prima pela ferocidade: a Igreja tem direito a transmissão televisiva das eucaristias, a mensagem de Natal do patriarca, a emissões especiais por ocasião do aniversário da cidadã Lúcia de Jesus dos Santos, a uma Universidade, e, até há bem pouco tempo, a presença no protocolo do Estado. Isto, claro, para não falar de absoluta liberdade de culto. (Estranho racismo este. Ou melhor: estranho emprego da palavra "racismo", que me parece profundamente ofensivo para com aqueles que, ao longo dos séculos, e neste preciso momento, sofreram e sofrem na carne e no ânimo os golpes do verdadeiro racismo.) Portanto, JCN tem razões para se regozijar: nem tudo é tão negro como a sua lúgubre pena o pinta. Quando JCN afirma que «O mundo continua embaraçado perante o dinamismo dos Apóstolos», apetece-me rebater: o mundo continua embaraçado, sem dúvida, mas menos com o dinamismo do que com a desfaçatez de que dão mostras, sem se aperceberem da irrelevância para onde velozmente deslizam, as altas hierarquias da Igreja, quando continuam a tentar influenciar um mundo que lhes escapa, nem que seja por meio da chantagem e da coacção. Entre os exemplos mais recentes: as palavras do papa, admoestando com arrogância os dirigentes da União Europeia por mais uma omissão de referência a "raízes cristãs", ou qualquer outra metáfora botânica que caísse no goto do Vaticano; ou os patéticos apelos à desobediência que se seguem à aprovação de leis fracturantes, como a descriminalização da interrupção voluntária da gravidez ou o casamento de pessoas do mesmo sexo. «Importa mais obedecer a Deus que aos homens» (Act 5, 29), cita JCN. Seria arrepiante, se não fosse tão anacrónico. Isto sim, é embaraçoso.
UMA CERTA TENDÊNCIA...: Ainda a propósito de filmes menores que dão origem a debates maiores, ou vice-versa: há um bom bocado que acalentava a ideia de, com base em dois filmes, ilustrar uma das (lamentáveis) tendências da crítica portuguesa. Os filmes são "Gabrielle", de Patrice Chéreau (que adorei) e "Million Dollar Baby", de Clint Eastwood (de que não gostei mesmo nada). De uma forma geral, a crítica torceu energicamente o nariz ao primeiro e elogiou profusamente o segundo. Até aqui, tudo bem. Deprimente foi constatar que a rejeição do primeiro se deveu, maioritariamente, ao seu suposto "maneirismo" e excesso de ademanes estilísticos, ao passo que, sobre o segundo, choveram encómios por via da sua limpidez formal, só ao alcance do "último dos clássicos". É claro que qualquer crítico é livre de achar que "Gabrielle" peca por exagero no estilo. O problema é ser esta apenas uma instância de uma propensão para castigar tudo o que cheire, ainda que debilmente e à distância, a excesso de zelo formalista. Problema ainda maior é ser essa propensão uma desculpa para não aprofundar a análise de um filme, não averiguar até que ponto as opções formais do realizador são ou não justificadas, não pensar o filme, em suma. Regra geral, um investimento explícito e profundo ao nível da forma é visto como gratuito, e perde na comparação com o apagamento e a neutralidade, sobretudo se nostalgicamente encarados como atributos de um suposto "classicismo" caucionador. Sem dúvida que, para exprimir as minhas ideias sobre o cinema, me agrada mais partir de filmes de que gostei do que daqueles que me foram indiferentes ou (caso de "Babel") que apreciei moderadamente. Este post reflecte mais a minha admiração por "Gabrielle" e por Chéreau (nunca saí desiludido de um filme dele) do que animosidade contra Eastwood, de quem vi pelo menos um filme que me agradou muito ("Midnight in the Garden of Good and Evil"), mas que me parece beneficiar de um estado de graça permanente e difícil de justificar.
EFEITOS BENÉFICOS DA MUDANÇA DE HORA: Por exemplo, este: de manhã, os gatinhos Goneril e Jasmim, que se guiam pelo sol e ignoram o que seja um fuso horário, começam a arranhar a porta e a miar uma hora mais tarde. Pensam que é cedo quando afinal já é tarde, he he he.
UM APELO À CALMA: Senhores da comunicação social, por favor, tenham mais tento quando se trata de noticiar controversas trocas de declarações entre elementos de duas selecções contendoras num importante desafio de futebol internacional. Ânimos mais exaltados podem interpretar as manchetes garrafais como apelos ao desacato e à zaragata. E quem sofre no meio disto? Pois bem, quem sofre é o comércio local das zonas limítrofes dos recintos desportivos onde se desenrola o desafio em questão (no caso vertente o Estádio Alvalade XXI), que corre sérios riscos de vandalização. Estou a pensar, para citar alguns nomes ao acaso, na Telepizza, no Ovo de Colombo (frangos de churrasco para fora), na frutaria Aquário, na padaria Espigasol, na mercearia do Sr. António e noutros pacatos estabelecimentos do sempre formoso bairro de Telheiras.

quinta-feira, março 22, 2007

PRA QUE CONSTE: Sábado, 24 de Março, às 16h30. Nos Espaços JUP, Rua Miguel Bombarda, 187, Porto. APRESENTAÇÃO DA AGUASFURTADAS 10. 10 CONVIDADOS ESCOLHEM 10 OBRAS PUBLICADAS NOS 10 NÚMEROS DA REVISTAAGUASFURTADAS. Com a participação de Carlos Guedes, Daniel Pedrosa, Jorge Palinhos, Luís Trigo, Nelson d'Aires, Nelson Quinhones, Nuno F. Santos, Pedro Carreira de Jesus, Rui Dias, Rui Lage, Rui Penha, Samuel Silva, Sérgio Couto e Virgínia Pinho. (Eu não posso ir, mas aqui fica o meu apelo àqueles que podem ir: vão!)

sexta-feira, março 16, 2007

TELHEIRAS BEAUTY: Através da janela da cozinha, o gato Jasmim seguia com o olhar, tenso e fascinado, um saco de plástico do Aki esvoaçando ao sabor do vento. A ninguém que o observasse poderia escapar a alusão cinéfila ao filme "American Beauty". (A avaliar pelo seu comportamento habitual, porém, a grande referência do Jasmim em matéria de sétima arte é "Sleep", de Andy Warhol.)

sexta-feira, março 09, 2007

AGRADECIMENTO E MUDANÇA DE LEMA, POR ESTA ORDEM: Obrigado a todos aqueles que, com despropositada generosidade, acharam por bem assinalar os 4 anos deste espaço. Os brindes prometidos já seguiram pelo correio, em envelope discreto. O lema deste blog passa a ser: "Aquilo que os outros não dizem, nós sussurramos."
NÃO À DISCRIMINAÇÃO: Quase no fim do seu pletórico número semanal, Marcelo Rebelo de Sousa anuncia o Dia do Rim. Acto contínuo, ao meu lado, Q. formula o desejo de ver celebrado o Dia da Vesícula Biliar.
CINEMA: E ainda uma outra coisa: falar de um filme implica, no todo ou em parte, falar da sua, chamemos-lhe assim, "representação do mundo", o que poderá implicar ou convocar aspectos mais ou menos incipientemente relacionados com a sociologia, mas não muda o essencial e o essencial é que, até prova em contrário, a "representação do mundo" é um problema eminentemente cinematográfico. (Luís Miguel Oliveira) Cem por cento de acordo. Iria até mais longe. Todo o filme pode ser visto sob um ângulo sociológico, assim como todo o filme pode ser visto sob um ângulo político (ainda que não necessariamente num sentido estrito, digamos "costa-gavrasiano" ou "loachiano" do termo). Ao concretizar uma visão do mundo, um filme implica uma atitude perante o meio humano e as suas componentes (pessoas, afectos, tempo, matéria, valores) que é da ordem do político. O que me exaspera não é que se façam leituras políticas a partir de um qualquer filme, mas sim o grau de indigência e de comodismo de que essas leituras, na grande maioria dos casos, se revestem. Nestes casos, com excessiva frequência, o crítico, com mais ou menos divagações e cambalhotas estilísticas pelo meio, pouco mais faz do que pronunciar-se sobre a eficácia e boa fé com que o realizador logrou transmitir a sua mensagem. Infelizmente, a eficácia e a boa fé são questionadas de forma alheia a qualquer critério do foro cinematográfico. Ou seja, o filme é avaliado segundo as suas vertentes de excelência artística e de validade ética, mas raramente enquanto filme. Se exceptuarmos a referência às interpretações e a aspectos técnicos avulsos (música, fotografia), grande parte daquilo que se escreve sobre cinema nos jornais portugueses poderia ser escrito acerca de um livro ou de uma peça. Não faço ideia se isto contribui para esclarecer alguma coisa ou não, mas gostava de fechar a loja de Babel e das suas discussões colaterais. Ninguém me obrigou e se me queixo de alguém é de mim, mas acho que nunca perdi tanto tempo com um filme que, para o dizer curto e grosso, não me interessa em nada e por nada. (Luís Miguel Oliveira) "Babel" não merece que sobre ele se funde um debate destes? Provavelmente, não. Estas questões são infinitamente mais importantes do que este filme. Ultrapassam-no e sobreviver-lhe-ão. Porém, com certeza não preciso recordar que, na história do cinema, não escasseiam exemplos de querelas e intervenções críticas influentes desencadeadas por filmes menores. De entre esses exemplos, destaco obviamente o artigo "De l'Abjection", de Jacques Rivette ("Cahiers du Cinéma", Junho de 1961), a propósito de "Kapo", de Gillo Pontecorvo. Para finalizar: não o disse na altura por relutância em personalizar, e por achar desnecessário, mas Luís Miguel Oliveira, assim como Mário Jorge Torres, Vasco Câmara e João Lopes são, de entre os críticos de cinema que escrevem regularmente na imprensa portuguesa, aqueles que mais admiro. Fosse esta a bitola média da crítica portuguesa e o meu agastamento não se faria ouvir com tanta regularidade.

terça-feira, março 06, 2007

DO CONTEÚDO LÍRICO DO MOMENTO MAGNÉTICO NUCLEAR: Por razões profissionais, dedico um interesse muito grande à Ressonância Magnética Funcional, e é sempre com curiosidade que avalio a maneira como estudos sobre a função cerebral com esta técnica são relatados ou mencionados na imprensa generalista, ou até nos blogs... Em muitos casos, a falta de enquadramento contextual destas imagens de cérebros com lindas manchas coloridas assinalando as regiões activadas deixa-me desconsolado.








Porém, devo reconhecer que a concisão e nível de linguagem exigíveis numa secção de divulgação científica para o grande público não se compadecem com aprofundamentos excessivos.

O que eu nunca teria esperado era ler uma menção a esta técnica na obra de um poeta português contemporâneo:


Ele e ela são corpos músicos
e segundo o olhar dela é ele quem escreve. Ambos
sabem que estão num filme; que são uma imagem
de cinema. Uma imagem inexplicável guardada no cérebro
de alguém: uma ressonância magnética alucinou-a lá.


(Manuel Gusmão, in "Migrações do Fogo", Caminho.)
RECORRENTE FRUSTRAÇÃO CINÉFILA:

"Il Caimano", de Nanni Moretti...





...e "Manderlay", de Lars von Trier.






Dois filmes cujas estreias aguardo há meses, sucessivamente adiadas em nome de critérios que nem me apetece tentar desvendar. Será o Natal, serão os óscares, serão considerações de ordem astrológica, estratégias impenetráveis sustentadas pela aplicação de algoritmos de transcendente complexidade, envolvendo redes neuronais, lógica de Bayes e teoria do caos?

A distribuição de cinema em Portugal parece desligada daquela que se esperaria ser a sua função primordial: antecipar e servir os interesses da sua clientela, ou seja os espectadores de cinema. Em vez disso, deixa-se reger por duvidosas lógicas de mercado, preterindo produtos com impacto potencial elevado (Von Trier e Moretti são dois realizadores de enorme prestígio, com numerosas obras estreadas e apreciadas entre nós) em favor de títulos obscuros, cuja fugaz e pálida passagem pelas salas não deixa o menor rasto.

A contragosto, sou forçado a resignar-me: o futuro da distribuição de cinema deverá passar cada vez mais pelo DVD e pela Internet, e apenas secundariamente pelas salas, dominadas pela hegemonia previsível dos blockbusters. A excepção poderão ser os festivais e cinematecas, cuja adesão me parece em crescendo (ainda ontem, sala cheia na Barata Salgueiro para ver "Stromboli", de Rossellini).

domingo, março 04, 2007

UM REGRESSO DE SAUDAR: Em tempos, fiz constar neste espaço a expressão da minha lástima pelo fim do diário "A Capital". O meu desgosto prendia-se, essencialmente, com o fim da página semanal de xadrez mantida por Luís Santos. Não posso, pois, deixar de manifestar profundo agrado pelo regresso de Luís Santos à imprensa nacional, nas páginas do diário gratuito "Diário Desportivo". Às terças, como nos bons velhos tempos (mas nos restantes dias da semana há estudos e problemas para entreter o aficionado). O figurino mantém-se: actualidade nacional e internacional, e partidas comentadas. Só é de lamentar a pouco eficiente distribuição deste jornal gratuito. Passo todos os dias pela estação de metro do Campo Grande, provavelmente um dos pontos mais concorridos de toda a cidade de Lisboa, e é raro conseguir deitar a mão a um "Diário Desportivo". A minha frustração atingiria níveis incompatíveis com a minha condição de pessoa moderada e afável, se não se desse o caso de Luís Santos publicar regularmente os conteúdos das suas rubricas na sua página. Numa das últimas terças-feiras, o xadrez teve, inclusivamente, direito a chamada de primeira página, com fotografia do grande-mestre arménio Vladimir Akopian, vencedor isolado do forte open de Gibraltar (onde também se destacou a portuguesa Margarida Coimbra, com norma de mestre internacional feminina). Pergunto-me se alguma vez Akopian chegou a saber ter sido assunto de capa num jornal português de grande tiragem. Não seria algo de facilmente prognosticável, mas é também para isto que serve a lei das probabilidades: namoriscar com o inverosímil, e injectar um pouco de alegria neste mundo previsível e grisalho.
JÁ CÁ CANTA:




"Close-Up", de Abbas Kiarostami. Um dos filmes da minha vida. Disponível na excelente colecção de DVDs da Midas Filmes.

quinta-feira, março 01, 2007

OS ANOS: Este blog faz hoje 4 anos. Não existe nisso especial mérito. A translação terrestre e a seta do tempo são os únicos que merecem felicitações, pela sua esplêndida e infalível constância. Ao longo deste último ano, reforçou-se a minha convicção de que o 1bsk não possui nenhuma "razão de ser" que lhe servisse de alicerce ou de impulso dinâmico, e que está condenado a ser aquilo que é: não mais do que a soma das palavras que acolhe. Insistindo nas definições pela negativa, este blog não é, certamente, um "projecto". Assisti já a numerosos blogs que se extinguiram quando o projecto que os sustentava se esvaziou. Trata-se de um conceito que me causa estranheza. Não existe nenhum princípio ou intenção situados num qualquer plano superior ao blog, que lhe confiram sentido ou propósito, e do qual dependa a sua sobrevivência. O 1bsk perdurará, não contra ventos e marés, mas como banal consequência do simples facto de existir. Para além da cor verde, o outro aspecto que me parece indissociável deste blog é a sua condição de objecto gratuito e afuncional. Com efeito, para além de ter mudado a minha vida, ele nunca fez nada por mim.