sábado, outubro 27, 2007

JÁ FUI AO BRASIL, PRAIA E BISSAU...: A campeã do mundo de xadrez da categoria de menos de 8 anos é indiana, e chama-se Ivana Maria Furtado.
UM TEMPO PARA VER OS QUADROS E UM TEMPO PARA ESPERAR PELA SUA VEZ: «Nesses museus, salvo para aceder a grandes retrospectivas, em regra com entrada autónoma, ninguém espera mais de dez minutos para comprar o bilhete e entrar.» Assim escreve Eduardo Pitta, referindo-se aos museus Met, MoMa, Tate, National Portrait Gallery, Louvre, Orsay, Prado e Thyssen. Pronuncio-me apenas sobre os três que conheço (omitindo o Prado, que visitei apenas na minha infância): a Tate é de acesso gratuito, o que não pode teixar de ter um efeito benéfico na fluidificação do tráfego de visitantes; o acesso ao Louvre pode acarretar uma experiência frustrante e morosa para quem não esteja a par da existência de entradas alternativas, por exemplo a da estação de metro Palais Royal Musée du Louvre; quando ao Museu de Orsay a fila de espera costuma ser longa e coriácea, o que me leva a conjecturar que o autor das linhas acima o terá visitado em época baixa, ou num dia em que um qualquer evento aglutinador do interesse popular roubou público aos museus de Paris.

quinta-feira, outubro 18, 2007

HUMANUM EST: A Errata da "Carta sobre os cegos para uso daqueles que vêem", de Denis Diderot (Vega, 2007) encerra ousadias pouco comuns neste sub-género. Por exemplo: página 120: onde se lê "Ena" deve ler-se "Epicurismo na" Ninguém se atreverá a questionar a utilidade desta Errata: sem a sua orientação, poucos seriam os leitores a ler "Epicurismo na" em vez de "Ena". O contexto e a imaginação fazem milagres, mas convém não exagerar. Fiquem desde já os leitores deste blog a saber que: onde lerem "Safa" deverão ler "Sai mais uma garrafa"; onde lerem "Fonix" deverão ler "Foi com a grandiosidade soberba e malsã de uma fénix"; onde lerem "Uau" deverão ler "Um veterinário da Póvoa de Lanhoso sofreu queimaduras de primeiro grau". Para que conste.
COMO FALAR DE UM AUTOR QUE NUNCA SE LEU: O excessivo peso que se atribui ao Nobel da literatura (como se a Academia fosse dotada de uma presciência sobre-humana que a distinguisse dos demais júris de milhares de prémios literários) mede-se não tanto em minutos de cobertura mediática (a rotineira nota de rodapé em noticiários televisivos e jornais) como na intensidade e verbosidade das reacções que se continuam a fazer ouvir, dias e semanas após a atribuição, à maneira de ecos tornados mais incómodos pela exiguidade da caixa de ressonância. Neste ano, atingiram-se zénites de idiotice e leviandade para os quais, admita-se, contribuíram muitas das opiniões de peritos que foram convidados a emitir juízo. De Hélder Macedo a Maria Teresa Horta, passando por Saramago e (pasme-se) Lídia Jorge, muito se falou em feminismo e experiência feminista, em sensibilidade social e em consciência cívica, em experiência e em valores. Falou-se de tudo um pouco, excepto de talento e mérito literário, coisa de que Doris Lessing é superiormente dotada, e da grandeza da sua obra multifacetada. Não teria sido necessário nada disto (mas deu uma ajudinha) para que surgissem os cínicos do costume, com a aljava repleta de argumentos contra a credibilidade do Nobel, conhecida arma de arremesso politicamente correcta esvaziada de conteúdo, titilados pelo sumário thumbs down de Harold Bloom (dá sempre jeito a um magala ter um fazedor de cânones como primeiro sargento). A culpa de tudo isto, no fundo, é da própria Doris Lessing. Para além de imune ao vedetismo, de escrever ficção científica, e de ter opiniões sobre política e sociedade, não possui um cunho estilístico marcado. É muito mais fácil desvalorizar o talento de um escritor que não se individualiza pelo estilo brilhante e convoluído do que um qualquer acrobata do verbo. Doris Lessing oferece, assim, o flanco àqueles em cujo espírito, por pura ignorância ou estreiteza de vistas, ausência de estilo individual equivale a desleixo formal. «Ou seja, para catalogar Doris Lessing não é preciso lê-la, basta incluí-la numa pretensa agenda política do Nobel da literatura» (Lido aqui.) Nunca ninguém leu aqui, neste blog tão verde, comentários sobre a obra e o mérito de Gao Xingjian, Imre Kertész ou Orhan Pamuk.
O SISTEMA: Não sou eu que estou contra o sistema, nem é o sistema que está contra mim. O que se passa é muito mais simples do que isso. Faço cócegas nas plantas dos pés do sistema, e, em troca, o sistema oferece-me rebuçados de mel de rosmaninho que não se encontram à venda nas lojas. É só isso.
UM BLOG... : Para blogar enquanto se nica ou para nicar enquanto se bloga. E vice-versa. Está tudo explicado aqui.

quinta-feira, outubro 11, 2007

FESTA É FESTA (MAS MENOS DO QUE ANTIGAMENTE): Não pude deixar de reparar, logo a seguir ao tal post de 2003 onde falava de Doris Lessing, a uma referência à Festa do Cinema Francês desse ano. Téchiné, Ozon, Pascal Bonitzer, Chéreau, Brisseau, Jean-Claude Biette... Que contraste relativamente ao desenxabido programa deste ano de 2007. Como não ceder ao saudosismo, perante este e outros indícios de que dantes era tudo melhor do que é hoje?
DO MÉRITO: A 2 de Outubro de 2003, eu escrevia: «(...)não me importo de admitir que, a cada ano que passa, alimento uma secreta esperança de ver premiado, e com direito ao spot de 60 segundos nos telejornais nacionais (entre o desporto e a meteorologia), um dos meus autores preferidos ainda vivos: John Barth, John Ashbery, Jacques Roubaud, Pascal Quignard, Doris Lessing, Peter Handke...» Acho absurdamente desproporcionado o alarido mediático que se cria em torno do prémio Nobel da literatura, mas não deixo de ficar satisfeito quando um escritor do meu panteão pessoal é distinguido. Há muito tempo (talvez desde Seamus Heaney) que um Nobel não me suscitava um sorriso de orelha a orelha. Doris Lessing é uma daquelas escritoras de quem se pode dizer ser desprovida de estilo (o que está longe de equivaler a desleixo formal). Tanto assim que um primeiro contacto com um fragmento da sua obra, um conto ou mesmo um romance inteiro pode decepcionar. Só muito de quando em quando emerge algo que se possa assemelhar a virtuosismo. Apesar da limpidez e do equilíbrio da sua prosa, não é o tipo de autor que fornece tiradas brilhantes e engenhosas aos coleccionadores de citações. A importância da sua obra deve ser apreciada, digamos assim, à distância, mediante uma visão de conjunto. Conheço poucos escritores que consigam conjugar de forma tão rica e exaltante a componente autobiográfica, a atenção aos problemas da sociedade e uma profunda dimensão humana. Não me parece que o seu livro mais conhecido seja "The Fifth Child". Em todo o caso, os meus romances favoritos de Lessing são a pentalogia "Children of Violence" e essa obra extraordinária chamada "The Golden Notebook", sem a qual - sinto-me tentado a afirmar - o século XX seria um pouco mais difícil de entender. (Nem me dou ao trabalho de percorrer os blogs para saber em que termos os escribas do costume põem a causa a justiça deste prémio. Tratando-se de uma mulher, ainda por cima de esquerda, ainda por cima meio africana, torna-se claro como água que se tratou de mais uma decisão política da Academia. Basta ter olhos na cara, pois então.)

terça-feira, outubro 09, 2007



ARTE SUBTERRÂNEA: Gosto muito das obras de Joana Rosa que integram a estação de metropolitano da Quinta das Conchas.




Joana Rosa baseia parte considerável do seu trabalho nos chamados "doodles": «(...) desenhos, garatujas e rabiscos feitos distraidamente enquanto se conversa ou se atenta noutras coisas. (...) À apropriação do objecto ou "doodle" feito pela própria, oferecido roubado ou colhido de outras pessoas, por vezes após longas horas de espera, a artista associa uma etiqueta em que explica quem o fez, onde, quando, em que contexto, e adiciona-lhe por isso uma densidade existencial: o "doodle" corresponde a uma personalidade e a um momento de criação, no qual tudo aparece em bruto e não filtrado pela consciência.» (Leonor Nazaré, Roteiro da colecção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão).

Também me agradam fortemente os ícones de Eduardo Batarda que povoam as paredes da estação de Telheiras. Vejo-os todos os dias, assim como à máquina de venda de bebidas que tapa parcialmente um dos painéis de azulejos. Assim privam o passageiro (a quem já bastariam as ordinárias agruras e vicissitudes da vida) da fruição de algumas destas figuras, a meio caminho entre a abstracção e a funcionalidade.




Não será isto um caso de vandalismo institucional por parte do metropolitano de Lisboa?
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Uma senhora lia a epopeia de Gilgamesh, em alemão, na linha azul do metropolitano. Há que reconhecer que tenho andado a negligenciar esta linha, cujos passageiros em breve disporão de mais duas estações para ler epopeias sumérias, ou outras obras literárias que encontrem graça a seus olhos.
UM BEIJO DADO MAIS TARDE: Uma mulher está a ser julgada por ter beijado um quadro de Cy Twombly, numa exposição em Avignon. O beijo deixou marcas de bâton, o que ajuda a configurar uma situação de vandalismo, embora certamente não das mais convencionais.

O advogado de defesa afirma ter-se tratado de um acto de amor. A advogada da acusação, pouco impressionada, afirma que «en amour, il faut être deux et consentants», assim desqualificando sumariamente toda uma tradição de fetichismos e parafilias que, queira-se ou não, é parte integrante da cultura ocidental.

No meu romance "Aqui Vem o Sol", um assaltante do Rijksmuseum roçava com os lábios um quadro de Odilon Redon, o "Retrato de Violette Heymann", e ficava sem a justa punição.



A arte e a vida imitam-se uma à outra com um desembaraço encantador.

sexta-feira, outubro 05, 2007


Celebrar a República, sempre!

Relembrar aqueles que desbravaram o caminho da igualdade, da cidadania e dos valores democráticos,
e que nos livraram de uma monarquia inepta e ultramontana.


Celebrar a República com a mesma naturalidade
e serenidade com que a vivemos todos os dias.


Viva a República!

quarta-feira, outubro 03, 2007

AN ALAN SMITHEE FILM FEATURING MARGARIDA VILA-NOVA: Consta que João Botelho e Leonor Pinhão se desentenderam com o produtor de "Corrupção", e poderão recusar-se a assinar a versão do filme a comercializar. Seria, ao que parece, a primeira vez que um filme português estrearia sem nome de realizador. Tenho a propor uma solução que seria ao mesmo tempo simples, elegante, original e moderna: fazer de "Corrupção" o primeiro filme português assinado por Alan Smithee! (Ou então um nome com consonâncias mais lusas, forjado para o efeito. "Alan Smithee" é anagrama de "The Alias Men". Alguma ideia, Rogério?)
SÓ UM PALPITE: Na minha opinião, a Sílvia Rizzo não vai todos os dias ao Intermarché por causa dos frescos. Desconfio que lhe pagaram para dizer que vai, mas não vai.