terça-feira, dezembro 16, 2008

UM APELO AO LEITOR: Leitor! O que estás a fazer aqui em vez de estares a ler aquilo que a Cristina escreveu sobre o Rivette? Assim não vamos a lado nenhum, ai não vamos não. (Muito ao longe, o tiquetaque dos relógios de Jerzy Radziwilowicz em "Histoire de Marie et Julien".)
ALGO VAI MAL: Depois de uma visita ao Reino Unido, é impossível entrar numa Fnac em Lisboa e consultar os preços dos DVDs sem sentir que algo vai mal.
Por exemplo, em Cambridge comprei uma caixa Polanski por 7 libras (ao câmbio actual, aliás muito propício a desvarios consumistas nesta moeda, são menos de 8 euros). A mesma caixa, na Fnac do Chiado, está à venda por trinta e tal euros.
Para juntar o insulto ao dano, a caixa que comprei inclui um DVD de curtas que não consta da versão vendida aqui.
Outros exemplos poderia dar. Só para citar mais um: uma caixa Herzog, à venda na loja Fopp em Cambridge (de visita obrigatória) por 12 libras, ao passo que uma caixa com (tanto quanto me apercebi) os mesmos filmes obrigará o herzogiano que há dentro de cada um de nós a uma despesa aproximadamente três vezes maior, na Fnac.
OLIVEIRA (1): Há coisas que me deixam perplexo. Manoel de Oliveira, um monumento? Não me consta que os monumentos cultivem o bom hábito de continuar a criar, a fazer obra, a ousar. E desde quando o usufruto de dinheiros públicos é incompatível com o exercício da liberdade artística? Que me mostrem um único momento de um único filme de Oliveira onde se detectem vestígios de subserviência, um único plano onde a reverência e o constrangimento pesem mais do que a mão soberana do realizador. "Raramente se discute" Oliveira? Muito pelo contrário: nunca houve em Portugal cineasta mais discutido, criticado, vilipendiado, fautor de causes célèbres. Raramente se discute com conhecimento de causa, isso sim. Raramente se discute sem que se caia na tentação do populismo ou do lugar-comum apalermado. Quem se recorda do inefável José Rodrigues dos Santos, com as pálpebras contraídas num ricto de indignação, denunciando essa aleivosia suprema que é o interminável plano inicial de "Non"? Estar à altura da fascinante singularidade de Oliveira é tarefa de monta. Àqueles que não se sintam à altura, seria de recomendar um silêncio decoroso. (Ler, a propósito, o que o Jorge escreveu.)