terça-feira, setembro 29, 2009

E TAMBÉM É O SÍMBOLO DE FACTORIAL!!!: A nova epígrafe do 1bsk espelha, espero que com clareza, a minha posição face à recente polémica sobre as virtudes e vícios no uso do ponto de exclamação. Para breve, neste espaço, pode o leitor contar com uma micro-antologia do ponto de exclamação na literatura universal, incluindo Gerard Manley Hopkins, Emily Brontë, Rimbaud e muitos outros. Nada melhor do que deixar os génios falar.
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Na linha verde do metropolitano, uma senhora lia "Boneca de Luxo", de Truman Capote. De pé.

sábado, setembro 19, 2009

PLEC = PROCESSO DE LEITURA EM CURSO:
SAI UMA MEIA DE LEITE E UMA TORRADA PARA A MINHA FONTE: No (deveras inquietante) caso das alegadas escutas à Presidência da República, uma das perguntas para a qual a nação sequiosa exige resposta é esta: qual foi o café da Avenida de Roma no qual o assessor do PR e o jornalista do "Público" se encontraram? A Avenida de Roma é grande, mas as hipóteses sérias não são tão numerosas quanto isso. Penso que se pode excluir o "Vá-Vá", demasiado vasto, exposto e conhecido para conspirações que não sejam de natureza cinéfila. O "Luanda", situado em posição diametralmente oposta, do outro lado do cruzamento com a Avenida dos E.U.A., parece-me ligeiramente mais favorável, devido à disposição da esplanada (sobre o comprido, propiciando alguns locais discretos). A "Suprema", cujo bolo-rei é muito justamente afamado, afigura-se-me demasiado acanhada, pouco adequada a uma figura pública que pretende passar despercebida. A "Sílvia" possui um espaço coberto que se presta menos mal a tête-à-têtes sigilosos - os cinéfilos recordam-se, decerto, da conversa pungente entre o sr. João de Deus e a empregadita da geladaria, em "A Comédia de Deus". Deixo as considerações sobre outros espaços, como o "Sul-América", para quem frequente mais amiúde o troço setentrional da avenida.
CINEMA: Gostei muito de "The Limits of Control", de Jim Jarmusch, mas não pelas razões que antecipava. Esperava uma declinação jarmuschiana dos temas do filme negro, e vi-me perante um filme que leva a abstracção formal a um patamar pouco frequentado, que transcende géneros e qualquer tentativa de glosa destes, tudo isto sem nunca deixar de se projectar prioritariamente na dimensão pictórica e física. É uma obra deliberadamente vazia de conteúdo (pelo menos no sentido estrito - digamos cognitivo ou narrativo - do termo), mas que se deixa invadir e vibrar por todas as expectativas e memórias do cinéfilo. Está longe de ser um filme arbitrário: todas as personagens, encontros, diálogos, aludem uns aos outros, servem-se mutuamente de eco, formando uma rede de significados cuja decifração é menos importante do que o simples facto da sua existência auto-referente. É, em última análise, um filme completamente legível e isento de fundos falsos. Não existem enigmas em "The Limits of Control", excepção feita ao enigma que é o próprio filme, não mais intrigante do que a própria vida (a vida que o filme, aliás, se abstém elegantemente de imitar) - um enigma que se evacua a si próprio no momento em que Isaach de Bankolé desaparece do campo de visão pela última vez. A solução do problema da vida manifesta-se pelo desaparecimento do problema (Wittgenstein). Entre (tantas) outras coisas, "The Limits of Control" é um festim para o fetichista cinéfilo. Desde que o vi, são inumeráveis as ocasiões em que tive de reprimir o desejo de pedir "two espressos in separate cups".

terça-feira, setembro 08, 2009

ENQUANTO ISSO...: O novo filme de Jacques Rivette, "36 Vues du Pic Saint-Loup", está na selecção oficial do Festival de Veneza. E estreará em França amanhã. Fiquei estupefacto com a duração deste filme: com apenas 84 minutos, é a longa-metragem mais breve da extensa carreira de Rivette. Esperemos que não venha a sofrer o mesmo triste destino de "Ne Touchez Pas la Hache": directamente para DVD sem passar pelas salas portuguesas, sem passar pela casa partida e sem receber 2000 escudos.