sexta-feira, outubro 09, 2009

UMA HORA E VINTE MINUTOS ANTES DO INÍCIO DA JORNADA DE REFLEXÃO, DEIXO-VOS A MINHA HOMENAGEM AO ÍNDICE REBUÇADO: Já conhece o índice rebuçado? Descubra tudo aqui. São inspirações como esta que distinguem uma democracia vibrante e vigorosa de uma democracia apagada e moribunda. Habitantes do Lumiar, a escolha é vossa. Vamos lá mudar de paradigma?
SÓ ALGUNS: Posso garantir, com pleno conhecimento de causa, que não mais de dois telheirenses em cada três lêem Murakami. Falar em "moda" releva do exagero.

quarta-feira, outubro 07, 2009

LIFE, THE TRUTH OF ART AND THE SORROWS OF IMAGINATION: Lá fora chove com abundância bíblica, o tempo não convida a saídas nocturnas, e que melhor maneira de passar um serão doméstico do que ler a crítica do blog "Reverse Shot" ao último filme de Rivette? Angustiam-me um pouco os tons de epitáfio que Damon Smith detectou em "36 Vues du Pic Saint-Loup". Espero que Rivette o desminta, realizando ainda muitos e excelentes filmes.
O QUE FAZ FALTA É ENLAÇAR A MALTA: Fiz um pouco de manutenção na lista dos enlaces. Aproveitei para acrescentar o Jugular, o Ladrões de Bicicletas, o Que Treta! e O Vermelho e o Negro, que já lá deviam estar há muito tempo. Tempus Fugit, como dizia o outro.

segunda-feira, outubro 05, 2009

NOTAS DE LEITURA SOBRE "LES PLAISIRS ET LES JOURS": Proust não tinha em elevada conta a arte da conversação, entendida como pretendente a género literário. Criticou Sainte-Beuve a este respeito, e chegou a pronunciar-se desfavoravelmente sobre Stendhal por este encarar a literatura como uma distracção, e por ter escrito "La Chartreuse de Parme" «faute de maisons où l'on cause agréablement et où l'on serve du zambajon». (Isto como nota de rodapé ao discurso de uma das personagens de "Mondanité et mélomanie de Bouvard et Pécuchet", pastiche de Flaubert onde Mallarmé é depreciado por não ter talento, apesar de ser um "brillant causeur".)
NOTAS BREVES SOBRE O 5 DE OUTUBRO:
  1. A República entra hoje no seu centésimo ano. (Deixemos, por agora, de lado o debate sobre se o Estado Novo merece a designação de "República".) Os 365 dias que se seguem devem ser de celebração, comemoração, informação e debate. Com sobriedade. Deixe-se o monopólio da pompa e da desmesura àquelas instituições mais comprometidas com a irracionalidade e com a suspensão do bom-senso (por exemplo, a monarquia, Fátima, o PC chinês).
  2. Frequentemente, escutam-se vozes preocupadas com a reduzida adesão popular ao feriado do 5 de Outubro. Não me conto entre os que vêem aqui motivo de ansiedade e de estados de alma. Se o 5 de Outubro não se comemora com fervor nem afã, isso deve-se acima de tudo ao facto de a República estar hoje solidamente instituída, a tal ponto que comemorá-la pode parecer uma redundância. (A ausência de multidões eufóricas nas ruas, no 1º de Dezembro, é razão para descrer do apego que os portugueses dedicam à independência do seu país?)
  3. Estes 365 dias não deixarão de trazer a dose fatal de provocações, acrobacias retóricas, e tentativas de fazer crer que existe hoje uma questão de regime em Portugal. Os jornais e televisões agradecem. Deixem a rapaziada da Causa Real, e demais facções (consta que não são poucas), entregar-se aos seus ruidosos e garridos rituais de iniciação, desde que não estraguem muita coisa, e de preferência antes das 2 da manhã, por causa do sono alheio.
  4. Viva a República!

sexta-feira, outubro 02, 2009

BOLO-REI: Que sorte. Pelo que me toca, ainda não me consegui habituar aos disparates deste blog. Quanto ao bolo-rei da "Suprema", eu falei em fama, e não em mérito, coisas que nem sempre andam de mão dada. Mais depressa revelaria o PIN do meu cartão multibanco do que as minhas preferências no campo da doçaria natalícia. Este assunto reveste-se de enorme importância, e aliás tenciono fazer uma comunicação ao país a este propósito, amanhã, às 20 horas e 50 segundos.
MORTES LITERÁRIAS: Uma comentadora da obra de Proust, Anne Henry, assinalou as numerosas semelhanças (que raiam o plágio) entre a morte de Baldassare Silvande, personagem de um conto de "Les Plaisirs et les Jours", e a do Ivan Ilyich de Tolstoi. «Chevaux de chasse et dettes de jeu, alliances princières, revolvers et policiers rossés arrivent tout droit de Moscou pour peupler le délire de Baldassare.»
ESSA MALTA: Pacheco Pereira denuncia, no seu blog, a «grosseria que se torna cada vez mais habitual no vale tudo em que estamos mergulhados». Não podia estar mais de acordo. O exemplo supremo desta grosseria, que PP terá sem dúvida omitido por o achar demasiado óbvio, são as crónicas de Vasco Graça Moura no "Diário de Notícias", que redefine semanalmente as fronteiras da vulgaridade e do bom senso. No seu mais recente esforço, VGM não regateia invectivas contra os mais de 2 milhões de portugueses que votaram no PS: de amorfos a impudentes, passando por invertebrados, tudo cabe no cabaz do tradutor de Petrarca. Momentos inspirados como «eles acabam de mostrar que preferem chafurdar na porcaria a encontrar soluções verdadeiras», ou «O que essa malta quer é o rendimento mínimo, o subsídio por tudo e por nada, a lei do menor esforço» (dê-se ao trabalho de ler a crónica, caro leitor, há muito mais) deverão, se houver justiça, entrar em antologias do uso vergonhoso da língua portuguesa. No meio da torrente, merece especial destaque este mimo: «Não se diga que tomo assim uma atitude de mau perdedor, ou que há falta de fair play da minha parte.» Inquietação inútil: nenhum leitor consciente tomará isto como mau perder. Estamos a falar de outra dimensão. A crónica de VGM está para o mau perder como as invasões dos hunos estão para um calduço na nuca. Um dos maiores mistérios que o nosso dulcíssimo Portugal guarda no seu seio é este: como é que um homem da estirpe intelectual de Vasco Graça Moura permite a si mesmo entregar-se a estes exercícios de má fé e pesporrência? É certo que a erudição não é totalmente incompatível com a boçalidade, mas um caso tão extremo dá que pensar. Quem sabe, porém, se os vindouros, desenquadrados do medíocre contexto histórico em que estamos imersos, não verão nestas tiradas valiosas instâncias de escárnio e maldizer pós-modernos, que contribuirão para a reputação póstuma deste autor. Desiludido com os seus coetâneos, resta a VGM apostar na posteridade.