quinta-feira, março 31, 2011

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Na inevitável linha verde do metropolitano, um leitor impecavelmente vestido lia "O Processo", de Franz Kafka. Tudo levava a crer que estava a encetar a leitura ali mesmo. Pareceu imperturbável quando se inteirou de que alguém deve ter andado a difamar Josef K., que numa manhã foi preso sem ter cometido qualquer crime.

quarta-feira, março 30, 2011

Si tu es dans un labyrinthe
Pousse-moi du coude
Je suis là dans le coin
Moi que tu ne cherches plus

(Christian Dotremont)

segunda-feira, março 28, 2011

A SÍNDROME DA CHINA: Encontrei finalmente a solução para revitalizar este blog, demasiado intermitente para acompanhar a vibração do mundo contemporâneo. É assim: vou contratar o melhor blogger chinês. Este blog passará a receber pelo menos 400 ou 500 internautas chineses por dia. Vão chover as comissões e os sponsors. Aliás, justifica-se criar um departamento só para o blogger chinês. Sócios, é este o projecto! É este o futuro! Estou concentradíssimo! Para além disto, a única coisa que se me oferece dizer sobre a situação no Sporting é o seguinte: obrigado aos apoiantes do candidato derrotado por, na sua fúria, não terem vandalizado o Lidl, que tem uns iogurtes excelentes e cuja secção de congelados mete respeito.
Essa música é linda....já me suicidei 3 vezes depois de ouvi-la. (Comentário à canção "Minha História", de Chico Buarque, no YouTube.)
IMITATED BY LIFE: Oscar Wilde afirmou que o Tamisa passou a ter nevoeiros mais densos depois dos quadros de Turner, mas nem sempre a vida imita a arte de forma tão obsequiosa. Por exemplo, como eu gostaria que Lisboa se parecesse mais com algumas das cenas de "O Bobo", de José Álvaro Morais, ou "Vai-e-vem" de João César Monteiro.

quarta-feira, março 23, 2011

When will you ever, Peace, wild wooddove, shy wings shut, Your round me roaming end, and under be my boughs? (Gerard Manley Hopkins)
(Cy Twombly)

segunda-feira, março 21, 2011

AQUI CLAMA-SE POR JUSTIÇA: Na "Ler" de Fevereiro, o Rogério escreveu, acerca de Lydia Davis: «Nos melhores momentos, o método recorda Donald Barthelme». (Frase pouco económica, diga-se de passagem: se evocam Barthelme, os momentos em questão são forçosamente os melhores.) Há dias, um amigo e blogger revelou-me, em conversa privada, que devorou (com evidente gosto) livro após livro de Barthelme. E um velho clamor meu faz-se novamente escutar, das profundezas da minha incompreensão: como é possível que um dos mais sublimes escritores americanos do século XX permaneça por traduzir em Portugal? Alguém que me agarre, caso contrário um dia destes fecho-me numas águas-furtadas insalubres e só de lá saio quando tiver traduzido "The Catechist", "Will You Tell Me?", "Kierkegaard Unfair to Schlegel", "Robert Kennedy Saved From Drowning", "King of Jazz", "The Indian Uprising" e mais uns quantos.

quarta-feira, março 16, 2011

CINEMA: Fiquei desapontado com o documentário "Deux de la Vague", de Emmanuel Laurent. Falta-lhe originalidade e não se percebe a quem se dirige: se a quem nada sabe sobre a Nouvelle Vague (mas será que esses irão gastar o preço de um bilhete de cinema para ver um filme sobre o assunto?) se aos iniciados (mas nesse caso teria valido a pena ir mais longe na originalidade, procurar um ponto de vista mais pessoal, não se limitar a repetir uma história tantas vezes contada). A ideia de intercalar imagens de Isild Le Besco (actriz francamente estimável, por sinal) a folhear números antigos dos "Cahiers" ou a passear por Paris não se compreende (esboço de esquema formal? tentativa de descolar do figurino de documentário?). Esperava mais do argumentista Antoine de Baecque. Entre os momentos mais conseguidos:
  • as imagens de um filme de Jean Rouch, caracterizadas por um estilo de montagem precursor de "À Bout de Souffle"
  • Godard, em entrevista, sobre Rossellini: «Admiro-o porque ele tem muitos filhos e muitos cães para alimentar, e no entanto faz filmes ousadíssimos.» (Citado de memória, negrito meu.)

quinta-feira, março 10, 2011

SE ME CONCEDESSEM 2O SEGUNDOS PARA FALAR A SÓS COM O CEO DA MICROSOFT, O QUE EU LHE DIRIA ERA ISTO: Eu sei perfeitamente que tenho ícones não utilizados no meu ambiente de trabalho!
2003 RULES!: Obrigado! Ena, posts de parabéns e agradecimentos! A nostalgia invade-me! Voltámos a 2003! Blair e Bush preparam a invasão do Iraque! Gus Van Sant ganhou a Palma de Ouro! Fari está prestes a sagrar-se melhor marcador da Liga!
À VENDA NAS BOAS CASAS: Já anda por aí o volume 52 dos "Livrinhos de Teatro" dos Artistas Unidos: "A Europeia e outros textos", de David Lescot. Eu fiz a tradução da terceira peça, "O Aperfeiçoamento". Espero vir um dia a assistir a uma encenação desta peça, mas pergunto-me se haverá muitos actores à altura do desafio. Este monólogo exige uma panóplia de qualidades (incluindo de acrobata) que não é comum ver reunidas num mesmo actor. Uma certa dose de insanidade também deve ajudar.

terça-feira, março 01, 2011

ANTES E DEPOIS: Outras das coisas que eram verdade nesse tempo: os votos de feliz aniversário de cada vez que um blog fazia anos (1 ano, 2 anos, 3 anos os mais velhotes). Era piroso, era paroquial mas tinha graça nos vários sentidos da palavra. Dava pouco trabalho; os blogs que eu seguia e que me interessavam cabiam numa página de um cadernito de endereços. Hoje, seria precisa uma página e meia. O 1bsk faz anos hoje. Oito anos. Obrigado a todos os leitores. Isto é para continuar. O ruído destes anos foi o das minhas hierarquias a desmoronarem-se e a reerguerem-se. Muitas coisas passaram ser mais nítidas e mais opacas. E assim é que eu gosto. O olhar de Ingrid Thulin no filme "O Silêncio" continua a presidir a tudo isto.