sábado, abril 30, 2011

AGENDA CULTURAL:

O teatroàparte apresenta "Esta Noite Improvisa-se", de Luigi Pirandello, com encenação de Sandra Faleiro.

Mais informações aqui.

CONTOS DE FADAS 1, REALIDADE 0: As estações de televisão portuguesas fizeram-nos o favor de fornecer um exemplo portentoso e definitivo de provincianismo e bacoquice. A cobertura do dito "casamento do século" nos moldes em que foi feita, roçando a intoxicação mediática, oscilando entre o estarrecimento de groupie, a irrelevância e a vacuidade, não é justificável nem pelos critérios mais liberais de interesse público. Jornalistas responsáveis deveriam ter vergonha em ser cúmplices deste empolamento desmedido que transforma um factóide num acontecimento planetário. O matrimónio da cidadã Middleton e do cidadão X (aparentemente, existem dúvidas sobre o direito do príncipe Guilherme a usar apelido) tem uma importância real nula. Estamos a falar do herdeiro de um cargo de chefia de estado meramente simbólico, e que aliás se alimenta da sua aura simbólica devidamente amplificada pelos idiotas úteis da aldeia mediática global. Estamos a falar de um cavalheiro que nada mais fez para merecer a atenção maciça de que desfruta do que sair do útero certo entre milhões de outros, a mais radical antítese de meritocracia que se possa imaginar. Mas nada disso impede a comunicação social de se desmultiplicar em directos, entrevistas de rua indigentes e spots foleiros, num paroxismo destinado a disfarçar a ausência de fundamento do exercício a que se entregam.

A propósito disto, o meu apoio vai inteiramente para estes senhores:


CONVERSA OUVIDA NUM COMBOIO:

ELE: Paixão de Cristo? Isso não é assim um pouco abichanado?
ELA: Não é nada disso, é paixão no sentido de amor por toda a humanidade.

segunda-feira, abril 25, 2011

FAÇA VOCÊ MESMO A SUA COMPARAÇÃO COM ADOLF, ESSE GRANDE FOLGAZÃO: Prossegue animada a disputa para demonstrar que a famigerada lei de Godwin não passa de uma aproximação tímida: depois de José Manuel Fernandes, também Carlos Vidal (desta vez, bizarramente, sem citar Alain Badiou) provou que a ocorrência de comparações com Hitler ou o Terceiro Reich não requer que a duração de uma discussão tenda para o infinito. Melhor ainda, não necessita sequer do esforço colaborativo de uma discussão: um só escriba, com o estofo apropriado, é quanto basta. Dispensam-se delongas, preâmbulos, gradientes na intensidade da adjectivação: trata-se de perpetrar o que há a perpetrar antes que se esgote o lapso de atenção do leitor médio.

Bem pelo contrário, João César das Neves, que não cultiva o estilo de retórica bulldozer, gosta de inserir um simulacro de cadeia argumentativa antes de se entregar aos seus atentados ao bom senso. Na semana passada, por exemplo, e a propósito do centenário da Lei de Separação da Igreja e do Estado, comparou a alegada perseguição da Igreja Católica durante a 1ª República com a perseguição aos judeus promovida pelos nazis. Fê-lo como aparente corolário de um patusco exercício de história comparada. O fosso entre os termos de comparação, o insulto à inteligência que pressupõe o mero acto de os cotejar, aparecem diluídos pelo estilo, na aparência demasiado cordato para conter derivas tão ofensivas e asininas.

São, no fundo, dois meios para o mesmo fim, duas variedades de vinagre para apanhar a mesma mosca doméstica: a vociferação de faca na liga ou o exercício académico. Comparar o que não é comparável é cada vez mais uma actividade popular e transversal a diversos sectores e orientações. A Reductio ad Hitlerium, em particular, ganha adeptos com uma velocidade proporcional (receio-o bem) ao ritmo a que se degrada a memória daquilo que realmente se passou na Alemanha e no mundo entre 1933 e 1945.

domingo, abril 17, 2011

APICHATQUÊ? (2):

Para já, [Apichatpong Weerasethakul] continua a seguir com grande interesse o trabalho de Tsai Ming-liang e Hou Hsiao-Hsien, por quem tem "muita admiração", e de Jacques Rivette, Terence Davies ou Manoel de Oliveira.
(Do artigo de Hélder Beja, "Ípsilon", 1/4/2011.)

Para além de génio, um gosto impecável. E que mais? Visão de raios X?
AVULSOS DE FIM-DE-SEMANA: Em tempos, o blog "Linha dos Nodos" compilou uma lista de poemas lidos em filmes. Tenho mais uma adição para o rol. No filme turco "Mel" é recitado o poema "Sensation", de Rimbaud, penso que na sua integralidade:

Par les soirs bleus d'été, j'irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l'herbe menue,

Rêveur, j'en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.

Je ne parlerai pas, je ne penserai rien :
Mais l'amour infini me montera dans l'âme,

Et j'irais loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la nature, heureux comme avec une femme.

Em contrapartida, continuo na ignorância sobre qual o poema que Tygh Runyan lê em "Road to Nowhere" Alguém me ajuda, em troco de (o caso não é para menos) gratidão eterna?
AVULSOS DE FIM-DE-SEMANA: Será que a letra "A" do nome da marca "Velho Barreiro" (cachaça brasileira ideal para caipirinhas) é um símbolo maçónico? Fonte bem informada garante-me que sim.

domingo, abril 10, 2011

É ELE! É ELE!: José Manuel Fernandes é que é o grande artista do Twitter em Portugal. Só precisa de 140 caracteres para pôr de pé uma comparação com o 3º Reich: outros, menos hábeis, levam pelo menos um parágrafo ou dois. A boçalidade e a falta de sentido da proporção vêm como bónus.
APICHATQUÊ? (1): Apropriadamente, foi no dia 1 de Abril que fui ver "O Tio Bonmee...", de Apichatpong Weerasethakul. A estreia deste filme, de tantas vezes prometida e adiada, quando por fim sucedeu não pôde deixar de se parecer com uma aldrabice adequada à data em questão.


Primeira impressão: um filme imenso, rico, livre e profundo como a vida (ou como deveria ser a vida). Não é, contudo, como cheguei a prever a partir de comentários e críticas que tinha lido, um salto qualitativo ou uma ruptura estética relativamente às obras anteriores de AW. Simplesmente, o mundo do cinema (e muito graças à ousadia do júri de Cannes presidido por Tim Burton) convenceu-se finalmente de que está perante um dos mais importantes e originais criadores contemporâneos. "O Tio Boonmee..." serviu, assim, para atrair atenções que tinham ficado indiferentes a outras obras-primas como "Tropical Malady", "Blissfully Yours" ou o meu favorito pessoal, "Syndromes and a Century".
BROWNIE POINTS: Durante um período excessivamente longo da minha vida, acreditei que a expressão "brownie points" dizia respeito àqueles deliciosos bolinhos quadrangulares de chocolate. Cada ponto, cada brownie: uma unidade monetária gustativa e nutritiva destinada a premiar boas acções e feitos valorosos. E afinal, a etimologia desta expressão é um viveiro de mistérios e conjecturas.