quarta-feira, dezembro 19, 2012

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Um leitor lia "A Boneca de Kokoschka", de Afonso Cruz. Não é grande proeza adivinhar o local: pois claro, a linha verde do metropolitano.

Por coincidência, acabei há poucos dias de ler este mesmo livro. Em Afonso Cruz, gosto muito do apetite pela metaficção e da maneira como cultiva uma variante muito pessoal de hipertextualidade. Tanto um como a outra distinguem-no entre os seus pares. Um dos aspectos menos conseguidos do seu estilo, por outro lado, é uma tendência para abusar de uma certa ingenuidade deliberada, que acaba por ser fatigante e por ter efeitos semelhantes ao desleixo.

terça-feira, dezembro 18, 2012

GRÃO A GRÃO: Ah quem me dera receber uma modesta quantia (vinte mil reis, na moeda antiga, chegariam para me contentar) por cada vez que a falácia de o ateísmo ser uma religião é vertida por escrito ou perpetrada oralmente. Desta vez foi Anselmo Borges, embora em modo citação (mas parecendo concordar com o autor original). Escusavam já agora de, de cada vez que o dislate é repetido, fazerem-no como se descobrissem uma verdade profunda e fulgurante.

segunda-feira, dezembro 17, 2012

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: O dia de anteontem foi um grande dia:
  • Na linha verde do metropolitano, uma leitora lia um livro que aparentava ser sobre as filmagens de "Faces", uma das obras-primas de John Cassavetes. Parecia ser um livro em n-ésima mão, acabado de comprar.
  • A poucos metros de distância, uma outra leitora lia "La Civilisation, ma Mère!..." de Driss Chraïbi. Chraïbi era um autor marroquino de quem li o muito bom "Le Passé Simple".

terça-feira, dezembro 11, 2012

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS: Na linha verde do metropolitano, um leitor lia "Nenhum Caminho Será Longo", de José Tolentino Mendonça, e lia com atenção evidente, não era uma leitura distraída, até pensei que se ia esquecer de sair na estação de Telheiras, mas tinha de sair, não é?, é a estação terminal, pede-se o favor de saírem do comboio.

sábado, dezembro 08, 2012

AFINAL ONDE ESTÃO AS PESSOAS?: Sérgio Monteiro, Secretário de Estado dos Transportes, pode ser arrumado na categoria dos "grandes pândegos" até indicação em contrário. Confrontado com uma quebra significativa de passageiros nos transportes de Lisboa e Porto, não hesita em atribuí-la ao aumento da fraude. O facto de, no último ano, a qualidade de serviço ter decrescido de forma grotesca, de os preços terem registado aumentos entre o brutal e o meramente avultado, de os descontos sociais terem sido cortados a eito (falo sobretudo do metropolitano de Lisboa, que conheço melhor, mas a tendência parece-me ser comum a outros meios de transporte, pelo que ouço e leio), de o aumento pavoroso do desemprego diminuir infelizmente as necessidades de transporte de muitos portugueses, não parece ocorrer-lhe como causa possível para o fenómeno. A culpa é dos borlistas, ponto final. O remédio consiste em apertar a fiscalização e agilizar a cobrança de multas, ponto final parágrafo. O raciocínio do Dr. Sérgio Monteiro brilha pela simplicidade: «(...) os transportes estão cheios e existe menos um quarto de automóveis a circular. Não tendo desaparecido as pessoas, nem tendo havido um aumento de automóveis, significa que continuam a andar de transportes». As estatísticas revelam uma queda no número de passageiros, mas o Secretário de Estado, dotado talvez de uma presciência sobrenatural que vem com a titularidade da pasta como um brinde num pacote de cereais, sabe que os transportes "estão cheios". Calculo que baseie esta asserção numa observação das composições da linha verde do metropolitano de Lisboa, que, desde a supressão da quarta carruagem, fervilham, com efeito, de gente amontoada.

Tudo vai bem. As estatísticas valem o que valem, ou seja muito pouco do ponto de vista de quem se sabe detentor de verdades absolutas, imunes aos números e ao bom senso.

domingo, dezembro 02, 2012

IMPRESSÕES DE PARIS (6): A Ménagerie do Jardin des Plantes é um jardim zoológico pequeno mas bem povoado de espécies relativente pouco comuns. Por exemplo, a vicunha:




Gosto muito da expressão de indiferença soberana que é comum a todos os camelídeos que conheço.

Pode argumentar-se que as tartarugas não têm nada de insólito, mas não me recordo de alguma vez ter estado ao pé de uma com este tamanho:


Falta a tradicional régua ou objecto familiar para transmitir a escala espacial, mas posso garantir que o bicho era muito grande.

Infelizmente, desperdicei de forma miserável a oportunidade de fotografar os dois animais que mais me fascinaram. Um deles foi o pudu:

Jaime E. Jimenez, commons.wikimedia.org

O nome "pudu" refere-se a duas espécies diferentes de veados, consideradas as mais pequenas do mundo, nativas da América da Sul. O seu comprimento não excede os 85 cm. São consideradas espécies vulneráveis, ou seja, à beira de estar em risco de extinção.

O gato de Pallas (Otocolobus manul) é um gato selvagem nativo da Ásia Central. Esta espécie é considerada "quase ameaçada" pela União Internacional para a Conservação da Natureza, ou seja, a um passo de virem a ser abrangidos pela categoria "vulnerável".

Jar0d, commons.wikimedia.org


Selvagem ou não, parece uma criaturazinha adorável que despertará certamente em muitos amantes do gato doméstico um desejo de o trazer para casa, contra todas as regras do bom senso. Mas só posso falar por mim.

A reprodução em cativeiro do gato de Pallas é extremamente difícil. Aqui, o relato de uma história de sucesso no jardim zoológico de Cincinnati.

Para acabar, um burro particularmente sociável e adepto da interacção com os visitantes: