No excelente blog "Orgia Literária", uma resposta arrasadora às infelizes considerações de Inês Pedrosa sobre a alegada menoridade do conto. Duvido apenas que a artigalhada de IP mereça resposta tão elaborada e rica, mas reconheça-se que disparates deste calibre, vindos de alguém com um mínimo de reputação, são tão raros como certos cometas, pelo que se justifica serem assinalados com uma certa pompa.
Apesar de tudo mantenho consideração por IP: admirei algumas suas acções no passado, as suas crónicas costumam ser muito mais equilibradas e sensatas do que este lamentável exemplo. Prefiro ver nisto um passo em falso, felizmente pouco susceptível de influenciar os gostos literários seja de quem for.
quarta-feira, outubro 30, 2013
OS PODERES SUPERIORES
quinta-feira, outubro 24, 2013
SÓ O CINEMA
E há ainda este sonho insistente: a minha vida não é mais do que um fotograma do filme "Céline et Julie Vont en Bateau", de Jacques Rivette. Dentro do sonho, a dúvida: antes ou depois de Dominique Labourier e Juliet Berto engolirem o caramelo mágico?
segunda-feira, outubro 21, 2013
HISTÓRIAS DE VIDAS BANAIS
Na sua crónica publicada no semanário "Sol", no passado dia 18, Inês Pedrosa exprime cepticismo a respeito da atribuição do Prémio Nobel à autora Alice Munro. Concede que Munro "não desmerece", mas defende que ela
não é melhor do que Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes ou Teolinda Gersão, antes pelo contrário
o que é uma maneira simpática de dizer que é pior do que qualquer uma destas três. Registe-se. E estou à vontade para me manifestar pouco à vontade com esta hierarquização, porque conheço bastante bem a obra das duas primeiras e tenho por elas consideração e estima. Luísa Costa Gomes é até, para mim, uma das autoras mais estimulantes da literatura portuguesa contemporânea, mas daí a afirmar que mereceria mais o Nobel do que Munro vai um valente passo.
Mas a coisa piora. Logo a seguir, IP escreve:
o trabalho do contista não se compara à exigência arquitectónica implícita no trabalho de um bom romancista
e
não venham dizer-nos que escrever muito bem pequenas histórias de vidas banais é a mesma coisa que escrever A Ronda da Noite ou Anna Karenina
Deixa-me pasmado esta apetência pela comparação dos méritos relativos dos géneros literários, à maneira de miúdos que discutem no recreio sobre quem é que tem um papá mais alto e mais rico. Mas vamos dar isso de barato. O que já me custa mais a aceitar sem revolta é a ideia de que um conto é uma história de vida banal, sem comparação com as arquitecturas grandiosas do romance. Será que essa descrição depreciativa se aplica a "The Dead" de Joyce, "Un Cœur Simple" de Flaubert, "For Esmé - With Love and Squalor" de Salinger ou a tantos dos contos de Pirandello, Barthelme ou Chekhov? A concisão, a elipse, a concentração dramática presentes num grande conto exigem menos do autor do que a monumentalidade arquitectónica de um romance que IP tanto preza? Têm a palavra as gerações de leitores e críticos que encontraram nestes e em tantos outros contos algo de supremamente belo e relevante para as suas vidas, a cujas vozes misturo a minha.
não é melhor do que Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes ou Teolinda Gersão, antes pelo contrário
o que é uma maneira simpática de dizer que é pior do que qualquer uma destas três. Registe-se. E estou à vontade para me manifestar pouco à vontade com esta hierarquização, porque conheço bastante bem a obra das duas primeiras e tenho por elas consideração e estima. Luísa Costa Gomes é até, para mim, uma das autoras mais estimulantes da literatura portuguesa contemporânea, mas daí a afirmar que mereceria mais o Nobel do que Munro vai um valente passo.
Mas a coisa piora. Logo a seguir, IP escreve:
o trabalho do contista não se compara à exigência arquitectónica implícita no trabalho de um bom romancista
e
não venham dizer-nos que escrever muito bem pequenas histórias de vidas banais é a mesma coisa que escrever A Ronda da Noite ou Anna Karenina
Deixa-me pasmado esta apetência pela comparação dos méritos relativos dos géneros literários, à maneira de miúdos que discutem no recreio sobre quem é que tem um papá mais alto e mais rico. Mas vamos dar isso de barato. O que já me custa mais a aceitar sem revolta é a ideia de que um conto é uma história de vida banal, sem comparação com as arquitecturas grandiosas do romance. Será que essa descrição depreciativa se aplica a "The Dead" de Joyce, "Un Cœur Simple" de Flaubert, "For Esmé - With Love and Squalor" de Salinger ou a tantos dos contos de Pirandello, Barthelme ou Chekhov? A concisão, a elipse, a concentração dramática presentes num grande conto exigem menos do autor do que a monumentalidade arquitectónica de um romance que IP tanto preza? Têm a palavra as gerações de leitores e críticos que encontraram nestes e em tantos outros contos algo de supremamente belo e relevante para as suas vidas, a cujas vozes misturo a minha.
domingo, outubro 20, 2013
sábado, outubro 19, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Uma leitora lia "Fow Whom the Bell Tolls", de Hemingway, na linha verde do metropolitano, em pé e na versão original.
Em que recantos obscuros se escondiam os leitores para exercer a sua actividade sediciosa, quando o metropolitano e a linha verde ainda não existiam?
Em que recantos obscuros se escondiam os leitores para exercer a sua actividade sediciosa, quando o metropolitano e a linha verde ainda não existiam?
sábado, outubro 12, 2013
APENAS CINEMA
Sabia há bastante tempo que Jean-Luc Godard tinha sofrido, algures nos anos 70, um acidente muito grave de motorizada, mas ignorava os detalhes. A leitura da sua biografia(*) esclareceu-me.
(*) "Godard", Antoine de Baecque, Grasset, 2010.
- Foi no dia 9 de Junho de 1971.
- O acidente ocorreu na esquina da Rue de Rennes com a Rue d'Assas, em Paris.
- Nesse mesmo dia, Godard deveria ter apanhado um voo para Nova York, com o objectivo de assinar o contrato referente à co-produção e distribuição do filme "Tout Va Bien".
- Quem conduzia a motorizada era a montadora Christine Aya, que saiu incólume.
- Godard, atropelado por um autocarro após a queda da motorizada, sofreu lesões na bacia, nas costelas, no joelho e na cabeça.
- O objectivo da deslocação era o de comprar um livro de Brecht.
- A rodagem de "Tout Va Bien", adiada por vários meses devido à hospitalização de Godard, acabou por ter lugar em Janeiro e Fevereiro de 1972.
(*) "Godard", Antoine de Baecque, Grasset, 2010.
"Tout Va Bien", de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin (1972). |
quinta-feira, outubro 10, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Uma leitora lia "Therapy", de David Lodge, na linha verde do metropolitano. Desde que li este livro, cuja personagem principal adquire uma obsessão por Kierkegaard, nunca mais esmoreceu a minha vontade de visitar Copenhaga. Fim da nótula pessoal.
quarta-feira, outubro 09, 2013
NÉVOA
Os dias vão-se sucedendo e é como se uma névoa espessa se tivesse abatido em permanência sobre Portugal, a tal ponto que as fronteiras e os limites outrora definidos com rigor e clareza se esbatem e perdem definição.
Como explicar de outra forma que haja pessoas, aparentemente sérias e irradiando circunspecção e eloquência, capazes de defender que um ministro dos negócios estrangeiros que:
Como explicar de outra forma que haja pessoas, aparentemente sérias e irradiando circunspecção e eloquência, capazes de defender que um ministro dos negócios estrangeiros que:
- Pediu desculpas a outro país por causa de uma investigação judicial em curso.
- Se referiu, na mesma entrevista, a esse processo judicial, emitindo comentários sobre a sua gravidade que nada do que é do domínio público pode justificar.
- Interrogado no parlamento, não só alegou não ter violado o princípio de separação de poderes, como atribuiu as críticas que chovem sobre ele, de todos os quadrantes, a uma tentativa de "assassinato político".
- Tentou desviar canhestramente as atenções com uma conversa sobre o segredo da justiça, como se estivesse a lidar com crianças de 4 anos para as convencer a comer os legumes e ir para a cama a horas, e não com representantes eleitos pelo povo.
sábado, outubro 05, 2013
5 DO 10
As
decisões pusilânimes dos governantes têm prazo de validade e importância proporcional à pequenez daqueles que as tomaram. O
significado das datas, esse, permanece. Feriado ou não, o 5 de Outubro continua
a ser a data em que Portugal deu um passo de gigante no sentido da
modernidade e em que deixou de ter como figura máxima o enésimo membro
de uma dinastia beijada pela graça divina. Viva a República!
Imagem retirada daqui. |
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