segunda-feira, janeiro 27, 2014

RECUSA O PRECONCEITO! DÁ UM ABRAÇO A UM FINANCEIRO!

Segundo o impagável João César das Neves, no seu momento semanal de comicidade involuntária, um dos "grupos mais desprezados e injustiçados de hoje" é o dos financeiros.

Leram bem: não se trata de qualquer minoria étnica ou religiosa, cultural ou linguística. São os financeiros.

Este homem é um "sketch" dos Monty Python em forma de gente. Cada vez mais me custa a acreditar que ele não seja um embuste gigantesco, um número de comédia refinadíssimo perpetrado por um Andy Kaufman português.

Estimado leitor: da próxima vez que avistar um financeiro na rua, resista à tentação de lhe lançar um olhar de desprezo e de apressar o passo. Fale com ele, dê-lhe um aperto de mão, pague-lhe um café e uma sande.

Nunca deixe de ter presente que o sistema financeiro sustenta os empregos de todos nós, como afiança JCN no remate desta crónica inolvidável.

quarta-feira, janeiro 22, 2014

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS

Linha verde do metropolitano. Uma leitora lia "O Leopardo", de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. O trajecto entre Telheiras e Campo Grande mal chega para articular em silêncio o nome deste autor.

terça-feira, janeiro 21, 2014

sábado, janeiro 18, 2014

CO-ADOPÇÃO

O dia de ontem foi um dia muito triste para a democracia portuguesa.

O que me apetece, no rescaldo da aprovação do referendo sobre co-adopção por casais do mesmo sexo, é agarrar pelos colarinhos os promotores desta iniciativa e perguntar-lhes, olhos nos olhos, se acham minimamente digna do mandato que lhes foi dado pelos cidadãos esta ideia de referendar uma lei que já foi aprovada na generalidade, que remete para o foro da consciência, que quando acabar por ser aprovada (e sublinho o "quando") mais não fará do que regularizar judicialmente situações de facto que já existem.

Aproveitaria esta rara ocasião para exprimir a minha repulsa pela proposta de juntar à pergunta sobre esta situação concreta uma outra sobre a questão, mais geral e (admito-o) mais sensível, relativa ao direito de adopção dos casais do mesmo sexo. Eu penso que este direito deveria estar consagrado na lei, mas trata-se de uma questão distinta, ainda que relacionada, e em relação à qual não está em curso qualquer iniciativa legislativa. A amálgama só favorece a confusão e as intenções de quem quer que fique tudo na mesma, sob a capa do mui louvável propósito de estender o debate à sociedade civil.

A disciplina de voto imposta à bancada do PSD, um dos dois maiores partidos portugueses desde há décadas, é simplesmente descoroçoante, por se tratar de uma matéria de consciência e por não existir vínculo a qualquer proposta ou menção constante do programa eleitoral.

O qualificativo de "fracturante" que se costuma associar a esta questão não passa de um estratagema usado por aqueles que discordam da lei e que tentam estender as suas reticências à sociedade, como se esta estivesse dilacerada por um dilema moral, como se a perspectiva de barricadas nas ruas ou cisões familiares violentíssimas por causa da co-adopção fossem realistas. Muito mais "fracturantes" do que esta lei, muito mais susceptíveis de abalarem a sociedade até aos alicerces, são as muitas leis que têm passado pela Assembleia como uma carta pelo correio, sem que algum menino da JSD se tenha entretido a propor referendos. Falo do Código do Trabalho, dos despedimentos na Função Pública, da privatização de empresas tão fortemente implicadas na vida nacional como os CTT e a TAP, e de numerosíssimas outras leis.

Tenho esperança de que o bom senso acabe por prevalecer e que estas manobras se esgotem no seu conteúdo dilatório, ao qual afinal se resumem, na prática.

Entretanto, deixo links para alguns dos textos lúcidos e certeiros que surgiram na esteira deste dia deplorável (única faceta positiva deste caso):

"Uma Espécie de Totalitarismo Democrático" (Pedro Figueiredo)
"Dos Pseudomoralismos Ditatoriais" (Sofia Loureiro dos Santos)
"A Coadoção" (Carlos Esperança)
"Homofobia e Governofobia" (Ricardo Alves)

A ainda: a intervenção de Pedro Delgado Alves na Assembleia da República.



domingo, janeiro 12, 2014

PSICOPATOLOGIA COLECTIVA LUSITANA

Os estudiosos que, no futuro, se debruçarem sobre a psicopatologia da mente colectiva lusitana em inícios do século XXI encontrarão no episódio do "Coreia-gate" um objecto riquíssimo em ensinamentos. Aos espíritos mais incrédulos, custará talvez a admitir que tanta e tão valorosa gente tenha perdido tanto tempo e tantas linhas, em tantos suportes e canais diferentes, a discutir onde estava e o que fazia um ex-primeiro ministro, menino e moço ainda, num certo sábado de Julho, e em que cenário comemorou ele os golos de Eusébio contra a Coreia do Norte, na longínqua Liverpool.

(Ler também: "Sobre a Doença".)

sexta-feira, janeiro 10, 2014

LIBERTAR PORTUGAL E CONQUISTAR O FUTURO

A Juventude Popular defende, em moção a apresentar ao congresso do CDS-PP, o recuo do ensino obrigatório do 12º para o 9º ano.

É no que dá deixar esta rapaziada brincar aos liberais, sem supervisão. Foge-lhes a boca para a verdade.

Claro está que o declínio do analfabetismo e a melhoria do nível de formação da população portuguesa representam um risco para todos aqueles que vivem de engendrar e impingir cretinices. A ignorância, a crendice e a falta de espírito crítico são caldo de cultura muito mais favorável. Não só Portugal tem doutores a mais, como o próprio diploma liceal já está a adquirir uma prevalência incómoda.

Tudo isto são verdades que ninguém discute.

Mas há que usar de alguma discrição. Ideias como esta arriscam-se ainda a causar um certo escândalo em círculos mais progressistas. Com os anos, esta malta há-de aprender a domesticar a sua candura.

Enquanto isso não sucede, reconheça-se que este precipitado de idiotice pura tem o seu encanto.

(Ler também isto.)


terça-feira, janeiro 07, 2014

SÓ O CINEMA

Nenhuma arte como o cinema suscita paixões, sentenças inflamadas e opiniões acaloradas. Não há nada de mal nisso. Um pouco de retórica, hipérbole ou má fé até ajudam a fazer passar a mensagem e dar-lhe mais uns quantos por cento de hipótese de sobreviver no mundo cruel da Web 2.0 (ou será que já vamos na 3.0?). C'est de bonne guerre.

Convém, no entanto, escolher os canais certos.

As folhas da Cinemateca são uma coisa maravilhosa e um dos argumentos mais potentes a favor da frequência regular do reduto cinéfilo da Barata Salgueiro. Guardo aquelas que fui recolhendo, ao longo dos anos, em 3 dossiers de argolas do formato maior. Cada autor tem o seu estilo próprio e inimitável. Quase todos compreendem que a função destas folhas não é servir de veículo aos seus humores pessoais, diatribes e embirrações de estimação. Infelizmente, pelo menos um deles, Antonio Rodrigues, é contumaz nos abusos. Julgando-se talvez um Bazin ou Truffaut em plenos anos 50, não hesita em verter para o papel, com pluma romba mas que parece crer-se acerada, farrapos de mundividência crítica que lhe podem dizer muito mas que fogem à missão principal destas folhas: a de informar, contextualizar e oferecer novos ângulos e leituras ao leitor (o que é muito diferente de impor os seus como únicos legítimos).

Achei piada quando AR assinalou o "o" traçado no nome da realizadora Mia Hansen-Løve como sintoma de falsidade (isto é autêntico). Acho menos piada quando ele se mete com os meus super-heróis. A maneira como desancou em Alain Cavalier e em quase toda a sua filmografia, na folha do filme "Pater" (um dos filmes mais originais e inteligentes dos últimos anos, a meu ver), roça o caso de polícia. Não se trata de delito de opinião, mas sim de delito de ignorância. Quem usa os termos "não forma" e "não cinema" para se referir a Cavalier está a ser desonesto, porque tenta fazer passar um juízo estético por uma demarcação entre o que é o que não é cinema. Dizer que os filmes de Cavalier não têm estrutura (conheço poucos filmes tão escrupulosamente estruturados como os de Cavalier) revela que a aversão (legítima) o deixou completamente cego e desmunido. Dar a entender que os filmes de Cavalier se resumem a filmar objectos e pessoas ao acaso, a "vidinha quotidiana de cada um de nós", deveria equivaler a falta profissional grave. Tentar arregimentar os leitores com frases como «Como este ciclo deve ter demonstrado claramente à maioria dos espectadores que o acompanhou (...)» faz lembrar um profeta que anda pela rua fora a agarrar os potenciais prosélitos pelo colarinho e a berrar-lhes a boa nova aos ouvidos.

Alain Cavalier e Vincent Lindon em "Pater"


Aquilo que, no meio desta catástrofe, ainda me custa mais a admitir é que uma pessoa com olhos na cara e que viu mais do que uma dezena ou duas de filmes na sua vida seja capaz de admitir que um actor do calibre de Vincent Lindon não se apercebeu da ironia subjacente a esta cena, sem dúvida uma das melhores e mais cómicas do filme. (Tem legendas em francês. As minhas desculpas aos não francófonos - não encontrei uma versão legendada noutro idioma. Em poucas palavras: ele queixa-se de uma discussão que teve com o porteiro, faz-se vítima apesar de viver num bairro elegante e abastado.)

 


segunda-feira, janeiro 06, 2014

sexta-feira, janeiro 03, 2014

A MINHA MENSAGEM DE ANO NOVO

Procuro fazer dos meus votos para 2014 algo de muito modesto, e chego a algo de extravagantemente ambicioso. Espero que o novo ano permita que a decência, a clarividência e a beleza ganhem alguns centímetros à estupidez, à intolerância, ao dogmatismo e à mesquinhez. Espero que todos acabem o ano com alguma coisa entre mãos à qual o substantivo "Felicidade" sirva sem demasiado esforço. E espero que continuemos a tropeçar com estrondo em filmes como este:

Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman em "The Master", de Paul Thomas Anderson

quinta-feira, janeiro 02, 2014

UM TÍTULO QUE NÃO ENGANA

Mesmo sem nunca o ter lido, tenho a certeza de que o poema "Toda a gente a beber coca-cola" é o tipo de poema capaz de revolucionar a Literatura e de marcar uma Geração.

LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS

No comboio Porto-Lisboa, um/a leitor/a lia "A Confraria do Vinho", de John Fante. A indefinição de género justifica-se pelas dificuldades inerentes à observação atenta de leitores sentados num comboio disparado a 200 à hora por esse Portugal fora. Aquilo balança e não é pouco. Este problema é muito sério.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

PÉROLAS DA PARIS REVIEW


EZRA POUND: The Irish like contradiction. He [Yeats] tried to learn fencing at forty-five, which was amusing. He would thrash around with the foils like a whale. He sometimes gave the impression of being even a worse idiot than I am.

(The Paris Review Interviews, Vol. 4)