O ministro Poiares Maduro veio a terreiro dizer que o Tribunal Constitucional limita em excesso a liberdade de deliberação democrática. A afirmação parece tão esdrúxula que me dei ao trabalho de ler o artigo várias vezes, em busca de uma justificação. Em vão. Talvez esteja nos conteúdos para assinantes.
É interessante, mas também assustador, constatar a ligeireza com que certas figuras designam a Constituição da República e o TC como bodes expiatórios, quando estes são ou se mostram contrários aos seus intentos e afã legislativo.
É reconfortante, por outro lado, saber que o Dr. Poiares Maduro defende, apesar das tendências castradoras do TC, que as suas decisões devem ser respeitadas.
quinta-feira, maio 30, 2013
terça-feira, maio 28, 2013
PAUL KLEE, GOETHE, SINDBAD E BARBA-AZUL, PORCOS-ESPINHOS, DIVÓRCIOS
Duas notas relativas à minha primeira visita do ano à Feira do Livro.
1) Há uma efígie em tamanho natural do papa Francisco colocada estrategicamente para pregar um susto aos incautos.
2) Está disponível no stand da Antígona a primeira (salvo erro imperdoável da minha parte) tradução da obra de Donald Barthelme publicada em Portugal.
Deixemo-nos de rodriguinhos: este é o acontecimento que marca o fim da idade das cavernas no meio editorial português e que escancara as portas da modernidade.
Acabou-se a vergonha que eu sentia quando tinha de admitir que um dos autores mais fascinantes e inovadores do século XX estava por traduzir, no meu país, ao passo que milhares de palavras de pura escória literária viam a luz por cada hora que passava.
Parabéns à Antígona e ao tradutor Paulo Faria por terem enfrentado este desafio.
Posso garantir que esta colectânea é, em conformidade com aquilo que é alegado pela editora, uma das melhores introduções à obra de Don B. Muitos destes contos estão entre os melhores do autor.
Não há que ter ilusões: por mais competente que tenha sido o trabalho de tradução (e acredito que o tenha sido), nada substitui o original. Mas não me parece completamente descabido adquirir a edição em português, como forma de agradecer à Antígona por ter quebrado este enguiço editorial que manchava o Portugal cultural como uma nódoa escura e viscosa.
1) Há uma efígie em tamanho natural do papa Francisco colocada estrategicamente para pregar um susto aos incautos.
2) Está disponível no stand da Antígona a primeira (salvo erro imperdoável da minha parte) tradução da obra de Donald Barthelme publicada em Portugal.
Deixemo-nos de rodriguinhos: este é o acontecimento que marca o fim da idade das cavernas no meio editorial português e que escancara as portas da modernidade.
Acabou-se a vergonha que eu sentia quando tinha de admitir que um dos autores mais fascinantes e inovadores do século XX estava por traduzir, no meu país, ao passo que milhares de palavras de pura escória literária viam a luz por cada hora que passava.
Parabéns à Antígona e ao tradutor Paulo Faria por terem enfrentado este desafio.
Posso garantir que esta colectânea é, em conformidade com aquilo que é alegado pela editora, uma das melhores introduções à obra de Don B. Muitos destes contos estão entre os melhores do autor.
Não há que ter ilusões: por mais competente que tenha sido o trabalho de tradução (e acredito que o tenha sido), nada substitui o original. Mas não me parece completamente descabido adquirir a edição em português, como forma de agradecer à Antígona por ter quebrado este enguiço editorial que manchava o Portugal cultural como uma nódoa escura e viscosa.
segunda-feira, maio 27, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
No cais da estação de metro Campo Grande, sentado, sentido Cais do Sodré, leitor entretido com um livro de Samuel Beckett que me pareceu ser a edição da Relógio d'Água de "Molloy" (95 % de certeza), e já se sabe como este livro tem matéria para entreter em abundância.
sábado, maio 25, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Leitor na linha amarela do metro com livro "Uma Vida Imaginária", de David Malouf, entre as mãos. Estava quase no final. Se foi até ao fim da linha (Rato), talvez tenha tido tempo para acabar.
segunda-feira, maio 20, 2013
sábado, maio 04, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Na linha amarela do metropolitano, uma leitora lia "Wuthering Heights", de Emily Brontë, de pé, em versão original.
Oh, Heathcliff!
Oh, Heathcliff!
sexta-feira, abril 26, 2013
quinta-feira, abril 25, 2013
INICIAL, INTEIRO, LIMPO
Ano após ano, fascina-me ir descobrindo as novas estratégias que certos sectores põem em prática para relativizar, apoucar, ignorar ou contestar o significado deste dia. E porém o significado e a memória perduram, tão mais fortes e nítidos do que tudo o resto.
segunda-feira, abril 22, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Na Cinemateca, uma leitora lia os "Diários" de Al Berto. Nada como um bom livro imediatamente antes de um filme. Ou depois.
sexta-feira, abril 19, 2013
terça-feira, abril 16, 2013
CONTUMÁCIA
Com um intervalo de vários anos, comprei um postal do mesmo quadro de Degas na Courtauld Gallery, Londres. É este:
Não sei se esta constância de gostos deve ser para mim motivo de embaraço ou de regozijo.
Há uma história, associada a este quadro, que pode ter contribuído para este impulso repetido. O quadro foi pintado durante o cerco prussiano a Paris, que trouxe consigo a fome e as privações de toda a espécie. A mulher que posou foi remunerada com um pedaço de carne crua que ela, esfomeada, devorou imediatamente.
«Figure and setting seem, like something found by chance, an unposed vignette, which the artist perhaps saw in passing, out of the corner of his eye, and which he must have registered later in the studio, using quick touches of oil paint on paper. But this is inaccurate. The picture was preconceived, and a model obtained. And Degas deliberately set out to experiment with "essence", which involves draining paint of its oil and thinning it instead with turpentine. So the informality, as always in Degas's paintings, is calculated.» (Frances Spalding)
![]() |
"Mulher à Janela", 1872. |
Não sei se esta constância de gostos deve ser para mim motivo de embaraço ou de regozijo.
Há uma história, associada a este quadro, que pode ter contribuído para este impulso repetido. O quadro foi pintado durante o cerco prussiano a Paris, que trouxe consigo a fome e as privações de toda a espécie. A mulher que posou foi remunerada com um pedaço de carne crua que ela, esfomeada, devorou imediatamente.
«Figure and setting seem, like something found by chance, an unposed vignette, which the artist perhaps saw in passing, out of the corner of his eye, and which he must have registered later in the studio, using quick touches of oil paint on paper. But this is inaccurate. The picture was preconceived, and a model obtained. And Degas deliberately set out to experiment with "essence", which involves draining paint of its oil and thinning it instead with turpentine. So the informality, as always in Degas's paintings, is calculated.» (Frances Spalding)
quinta-feira, abril 11, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Na plataforma do metro da estação Campo Grande (linha verde, sentido Cais do Sodré), um leitor lia um livro de Mo Yan. Sim, era esse mesmo, o mais-que-mítico "Peito Grande, Ancas Largas". O que terá despertado o interesse deste leitor? O prestígio do prémio Nobel? O título, tão subtilmente sugestivo? Nunca o saberemos. Em todo o caso, a linha verde continua a dar cartas.
segunda-feira, abril 08, 2013
CONSTITUIÇÃO
Nestes tempos (que tempos!) em que se insultam órgãos de soberania com a mesma ligeireza com que se esborracha um mosquito, certas imagens valem mais do que mil palavras, um milhão de comentários, um bilião de narrativas:
Sim, a Constituição da República. A maior força de bloqueio que existe, segundo alguns (numerosos, barulhentos); o mais nefasto dos empecilhos.
Sim, a Constituição da República. A maior força de bloqueio que existe, segundo alguns (numerosos, barulhentos); o mais nefasto dos empecilhos.
sexta-feira, abril 05, 2013
LONDRES
O favorito Magnus Carlsen ganhou o torneio dos candidatos de Londres e o direito a desafiar o campeão do mundo, Viswanathan Anand, mas as vias do seu triunfo foram tortuosas. Em igualdade pontual com Vladimir Kramnik à entrada da última ronda, Carlsen beneficiava de um melhor coeficiente de desempate, bastando-lhe por isso fazer tão bem como o seu adversário directo. O desfecho foi impróprio para cardíacos: Carlsen, que defrontava Peter Svidler com brancas, perdeu o controlo do jogo e acabou derrotado. Felizmente para ele, Kramnik, jogando de negras contra Vassily Ivanchuk, hesitou demasiado entre jogar para a vitória ou para o empate e acabou com uma posição desesperada, acabando por desistir.
O embate Anand-Carlsen será uma coisa digna de se ver. Mal posso esperar.
Por coincidência, estive em Londres durante a recta final do torneio. Não fui assistir a este pedaço de história do xadrez por duas razões fundamentais. A primeira esteve relacionada com o preço dos bilhetes de ingresso (a rondar as 30 libras, pelo que me constou). A segunda razão, muito mais importante, foi a existência de coisas bem mais produtivas e interessantes para fazer, como por exemplo esta:
![]() | ||||||
Carlsen (esquerda) perdeu o jogo mas ganhou o torneio. Fotografia retirada daqui. |
O embate Anand-Carlsen será uma coisa digna de se ver. Mal posso esperar.
Por coincidência, estive em Londres durante a recta final do torneio. Não fui assistir a este pedaço de história do xadrez por duas razões fundamentais. A primeira esteve relacionada com o preço dos bilhetes de ingresso (a rondar as 30 libras, pelo que me constou). A segunda razão, muito mais importante, foi a existência de coisas bem mais produtivas e interessantes para fazer, como por exemplo esta:
![]() |
Rembrandt, "Titus, the Artist's son", c. 1657. Visto na Wallace Collection. |
segunda-feira, abril 01, 2013
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
Um vigilante de uma das salas da colecção Wallace (Londres), tranquilamente instalado na sua cadeira, lia a peça "Timon of Athens". Estava a começar o 3º acto. Por um lado, é obviamente de louvar. Por outro lado, impõe-se a dúvida: em caso de pulsão vandalizadora por parte de um qualquer visitante, será que o tempo de reacção de alguém que está imerso numa tragédia shakespeareana será suficiente para salvar a integridade da obra de arte?
quarta-feira, março 27, 2013
XADREZ
Está a disputar-se em Londres, até dia 1, o torneio dos candidatos ao título de campeão do mundo de xadrez. O vencedor ganha o direito de disputar o título com o indiano Viswanathan Anand, actual campeão. A quatro rondas do fim, Magnus Carlsen (Noruega), nº 1 da classificação mundial e grande favorito, lidera com meio ponto de avanço sobre Levon Aronian (Arménia) e um ponto sobre Vladimir Kramnik (Rússia). Estes três são os únicos que ainda podem aspirar à vitória. O meu ídolo de sempre, o ucraniano Vassily Ivanchuk sofreu hoje mais uma derrota e está em último lugar.
terça-feira, março 19, 2013
EXTRATERRESTRE
(Ainda a propósito disto.) Nos tempos que correm, defender os valores da laicidade de forma clara e descomplexada parece coisa de extraterrestre. Felizmente, ainda se vão vendo alguns homenzinhos verdes a circular por aí, em particular na Assembleia. Tanto melhor.
Na caixa de comentários da notícia, há quem chame a Pedro Delgado Alves "filhote de Afonso Costa". A mim, soa a elogio, mas duvido que fosse essa a intenção do seu autor.
Pedro Delgado Alves já se tinha distinguido, o ano passado, pela reacção contrária à eliminação do feriado do 5 de Outubro.
Na caixa de comentários da notícia, há quem chame a Pedro Delgado Alves "filhote de Afonso Costa". A mim, soa a elogio, mas duvido que fosse essa a intenção do seu autor.
Pedro Delgado Alves já se tinha distinguido, o ano passado, pela reacção contrária à eliminação do feriado do 5 de Outubro.
Subscrever:
Mensagens (Atom)