segunda-feira, outubro 30, 2006
domingo, outubro 29, 2006
Foto de Murat Kul, retirada daqui.
Ao fim das doze partidas, o resultado estava empatado (três vitórias para cada lado, incluindo a falta de comparência de Kramnik na quinta partida), pelo que foi necessário recorrer ao desempate em ritmo semi-rápido, onde o russo demonstrou nervos mais sólidos: duas vitórias contra uma de Topalov e um empate. As minhas reacções a esta vitória são as seguintes. CONTENTAMENTO pelo fim de uma cisão de treze anos, provocada por Nigel Short e Garry Kasparov, e que, por melhores que fossem as intenções subjacentes, prejudicou gravemente a imagem da modalidade. SATISFAÇÃO pelo facto de as manobras desonestas e provocatórias do manager de Topalov não terem sido recompensadas com o triunfo final. APREENSÃO quanto ao futuro. Não está ainda inteiramente claro em que moldes serão organizados os próximos campeonatos mundiais, e a lendária incompetência da Federação Mundial de Xadrez (FIDE) para cumprir as suas promessas levanta legítimas inquietações. Para já, está previsto um torneio, no México, em 2007, no qual Kramnik deverá defender o seu título. Mas existem ainda fortes dúvidas sobre quem participará nesse torneio, e sobre o formato do próximo ciclo do campeonato mundial. CEPTICISMO quanto às relações futuras entre a FIDE e o novo campeão. Kramnik revela, longe dos tabuleiros, o mesmo calculismo e frieza, por vezes à beira do cinismo, que o caracterizam como jogador. Foi praticamente forçado, por uma questão de credibilidade, a disputar este match de reunificação, mas nunca escondeu que se considerava já campeão do mundo, invocando a legitimidade que advinha da vitória sobre o último campeão incontestado (Kasparov, em Londres, 2000). Durante o encontro de Elista, após o foco de controvérsia que originou a sua ausência da quinta partida, Kramnik deixou bem claro que, mesmo que saísse derrotado no final, continuaria a considerar-se campeão do mundo, jogando assim em dois tabuleiros: o desportivo e o moral/jurídico. Isto equivale a comer o bolo e querer ainda guardá-lo na despensa. Não me admiraria que, num futuro próximo, ao mínimo desacordo, Kramnik rompa com a FIDE, de quem com tanta relutância se aproximou, e regresse à sua postura primitiva, reivindicando o seu estatuto de campeão "clássico", na continuação de Kasparov, Karpov, Fischer, numa linha contínua (ou quase...) que já abarca três séculos e que começa com Steinitz, em 1886. Aguardemos, pois, pelo desenrolar dos acontecimentos.