quinta-feira, janeiro 31, 2008

PELAS RUAS DE CAMBRIDGE: Uma alternativa anfíbia ao Clive é a escola de condução "Toad's School of Driving".
NOLI ME TANGERE: Foi em VHS, sim senhor. E às prestações. Trouxe as cassetes do "Out 1" da fabulosa mediateca Jean-Pierre Melville (à rue de Tolbiac) cuja colecção de vídeos tinha a particularidade (única entre as bibliotecas de Paris, pelo que me apercebi) de estar ordenada pelo nome do realizador e não pelo título, sinal evidente de escrúpulo cinéfilo. Quanto ao vagar, foi sendo encontrado às prestações, porque 12 horas sempre são 12 horas (e não 8, por exemplo, muito menos 4). Outro feito rivetteano que me deixa mais do que um bocadinho ufano é ter assistido a estreias de filmes deste realizador em 3 países diferentes: Itália ("Haut Bas Fragile"), França ("Secret Défense") e Portugal (vários, a começar por "La Bande des Quatre"). Se, como é previsível, a minha saída de campo deste fim-de-semana para observar espécies de esquilos raras for cancelada, devido às inclemências da meteorologia, juntarei mais um binómio nação/filme a esta contabilidade. Com efeito, "Ne Touchez pas la Hache" ("Don't Touch the Axe") estreia amanhã aqui em Cambridge, no mítico Arts Picture House. Pergunto-me como será a tradução portuguesa do título deste filme. "Não Toques no Machado" remete mais para o parque Mayer do que para Balzac.

terça-feira, janeiro 29, 2008

DON'T COME KNOCKING ON THAT DOOR:


(St. Giles's Church, Cambridge)

segunda-feira, janeiro 28, 2008

AJUDANTES DA GRAVIDADE: Um fabuloso post sem palavras do Francisco. De cima para baixo, e correndo o risco de quebrar o mistério:
  • Fejria Deliba e Benoît Régent em "La Bande des Quatre", de Jacques Rivette.
  • Laure Marsac e Sandrine Bonnaire em "Secret Défense", de Jacques Rivette.
  • Jerzy Radziwilowicz e Emmanuelle Béart em "Histoire de Marie et Julien", de Jacques Rivette.

Julgo recordar-me de uma outra cena, também em "Secret Défense", onde Jerzy Radziwilowicz persuade/força uma das personagens (mas qual delas?) a largar uma arma. Tenho o DVD ao alcance da mão. Assim a minha vida de observador da vida selvagem mo permita, tentarei localizar a cena em questão. Assim que tiver novidades, os leitores serão os primeiros a saber.

Fevereiro e Março serão meses euforicamente vividos sob o signo de Rivette, por ocasião dos 80 anos desse franzino filho de um farmacêutico de Rouen, e da retrospectiva que a Cinemateca lhe dedicará.

domingo, janeiro 27, 2008

HORA DISCOVERY 'R' US:


Esta é uma bofetada de luva branca em todos aqueles (e são legião!) que duvidavam da minha vocação para fotógrafo da vida selvagem.

O habitat destas simpáticas criaturas concentra-se nas zonas mais inóspitas e inacessíveis da região da East Anglia. Foi um colossal golpe de sorte deparar com uma em pleno centro de Cambridge, a dois passos do museu Fitzwilliam (aberto de terça a sábado das 10 da manhã às 5 da tarde, aos domingos do meio-dia às 5 da tarde, entrada livre).

A minha afinidade para com os esquilos tem já uma longa história. Por exemplo, certa vez um vivaço membro desta espécie atravessou-se à minha frente em pleno parque de Schönbrunn. A princípio, confundi a sua atitude, demasiado amigável, com um gesto de agressividade, quando afinal se tratava somente da natural manifestação de uma apurada vontade de socializar. Considerei a hipótese de o adoptar, mas receei que a mudança de Viena para Lisboa pudesse acarretar consequências negativas para a qualidade de vida do animalzito.

sábado, janeiro 26, 2008

PELAS RUAS DE CAMBRIDGE: Leitor que lês este humilde blog, aceitarias alguma vez recorrer aos serviços de uma escola de condução baptizada "Drive with Clive"? Se a tua reacção é um consternado abanar de cabeça é porque vemos o mundo com os mesmos olhos. (Que sirva de lição àqueles que não acreditam na relação de causa/efeito entre um nome e uma vocação. Neste caso, com a ajuda de um incipiente gosto pelas regras da rima.)
DO BRASIL PARA O MUNDO: A revista online Critério inclui, no seu último número, um dossier temático sobre Delmore Schwartz, do qual consta um artigo da minha autoria.
UM BLOG COM VOZ: Uma árvore com voz em forma de blog. Borges, David Mourão-Ferreira, John Cage e Pogues marcam presença no aquário do peixe solúvel.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

É ENTRAR, É ENTRAR, O ESPECTÁCULO VAI COMEÇAR: Certas pessoas parecem retirar prazer de exercícios de contorcionismo argumentativo destinados a refutar o irrefutável ou a defender o indefensável. Em certos casos, o exercício é levado a tais extremos que, mais do que contorcionismo, se torna necessário falar de prestidigitação. Uma prestidigitação de feira popular, em que os truques só entretêm a multidão até alguém descobrir o compartimento onde se escondem as pernas da partenaire, ataviada de lantejoulas, que foi supostamente serrada ao meio. Numa das suas últimas crónicas, João César das Neves tenta convencer o seu respeitável público (perdão, os seus leitores) de que a Europa contemporânea foi obra da Igreja Católica. Uma coisa que ninguém nega é o papel importante que a Igreja desempenhou, na Idade Média, na conservação de arquivos e obras fundamentais de autores das civilizações clássicas (suponho que JCN inclui os atenienses do século de Péricles entre os pagãos "obscurantistas"). É também evidente que a Igreja, valendo-se do seu estatuto de instituição mais sólida e bem organizada ao longo de vários séculos, propiciou alguma estabilidade no continente europeu (mas não certamente da forma generalizada e idílica que JCN nos pinta). Isto, claro, quando não se entretinha a lançar achas para algumas fogueiras cuja combustão servia os seus desígnios. Daí a atribuir à Igreja o mérito por todas as invenções e progressos registados durante a Idade Média vai um imenso abismo, que JCN transpõe com a ligeireza despreocupada com que um gaiato salta uma poça de água. Quem o levasse à letra, ficaria convencido de que o arado, os óculos, as tintas a óleo e "as bases da ciência" (!!!???) foram obra de bem-intencionados monges e clérigos. As alegações de JCN não poderiam ser mais explícitas: «Em todos estes avanços, e muitos outros, têm papel decisivo mosteiros, conventos e escolas da catedral(...)». Teria especial interesse em que me fosse explicado o papel dos mosteiros na invenção do soneto. Com aquilo que o próprio tomará talvez por subtileza, JCN limita a sua análise trapalhona à Idade Média, calando-se quanto àquilo que a História regista a partir da contra-reforma. Mesmo que se admitisse, esforçando os limites da boa vontade, que a Igreja foi a principal responsável pela criação de um espaço europeu de progresso material e científico, uma rápida pesquisa na Internet ou numa boa biblioteca permitiria localizar centenas de exemplos de situações em que, nos últimos séculos, as autoridades eclesiásticas e a mentalidade cristã se afirmaram como os principais inimigos da ciência, do pensamento livre e da emancipação dos povos. Galileo Galilei, a Inquisição, o Índex, as encíclicas contra a separação Igreja/Estado e a liberdade de expressão, as cumplicidades com algumas ditaduras odiosas do século XX, são apenas alguns dos exemplos que não deixariam de ocorrer a qualquer cidadão normal que, como fonte de informação, não se ficasse pelas homilias de JCN ou de uma das suas cópias-conformes. Há limites para a credulidade da populaça. A Europa moderna construiu-se muito mais contra a Igreja do que por obra dela, e esse conflito não acabou: perdura ainda hoje, como o comprova a leitura regular dos jornais, povoados de intromissões na vida secular por parte daqueles a quem o bom-senso aconselharia a confinar-se ao tal reino que, diz-se, não é deste mundo.
ROBERT JAMES FISCHER 1943-2008:



Como xadrezista, foi um dos maiores talentos do século XX. Durante curtos períodos, exerceu um domínio avassalador sobre os seus pares, com poucos paralelos na história da modalidade. (Estou a pensar, em particular, no período que mediou entre o interzonal de Palma de Maiorca de 1970 e o match final do torneio dos candidatos contra Petrossian, em 1971.) A sua carreira foi mais curta e esparsa do que a de outros campeões do mundo, como Lasker, Capablanca, Alekhine, Karpov ou Kasparov, o que forçosamente condiciona qualquer comparação que se pretenda fazer entre eles. O seu estilo era enérgico, agressivo e pragmático.

Como pessoa, era execrável. Durante a sua carreira profissional, era conhecido pelo egocentrismo, pela falta de urbanidade e pelos seus caprichos. Na fase final da sua vida, resvalou por uma arrepiante espiral descendente que o levou à paranóia, ao anti-semitismo e à mania da perseguição. Na sequência dos atentados de 11 de Setembro, declarou "This is all wonderful news". É interessante constatar como o seu enorme talento parece ter servido como atenuante para as suas acções e declarações deploráveis. Até ao seu desaparecimento, nunca faltaram os amigos e ex-amigos prontos a desculparem-no. O governo da Islândia achou por bem conceder-lhe cidadania honorária, o que lhe permitiu viver os seus últimos anos em tranquilidade e segurança.

Fischer foi possivelmente a figura que maior influência e impacto teve no xadrez, na era moderna. O mediatismo que rodeou a sua disputa com Boris Spassky em 1972, que o levou ao título do campeão do mundo, representou um pico de popularidade e visibilidade que o xadrez muito dificilmente voltará a alcançar. Ao morrer, Fischer não se transformou em lenda. Reduzido a uma caricatura de si próprio, era já como lenda que ele sobrevivia no imaginário dos que o admiravam. E ninguém que aprecie o xadrez pode deixar de admirar profundamente aquilo que Fischer nos legou de mais precioso: a sua paixão por este jogo sublime, e as suas partidas.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

HÁ PAÍSES EM QUE A LAICIDADE É LEVADA A SÉRIO: O papa renunciou a visitar a universidade da Sapienza, em Roma, onde deveria ter pronunciado o discurso de abertura do ano lectivo. Parece-me que os protestos de alguns professores e alunos, que acabaram por levar à inviabilização da visita, foram um tudo-nada despropositados. A reacção mais indicada, a meu ver, teria sido outra: pedir, como legítima e cordial contrapartida ao privilégio concedido ao cidadão Ratzinger, que o presidente do Departamento de Física (aparentemente o mais fortemente implicado no protesto) fosse convidado a fazer a próxima bênção Urbi et Orbi. Tudo em nome da tolerância e da reconciliação entre ciência e religião. Sejamos claros: a presença deste papa, que já se distinguiu por afirmações anti-científicas, numa universidade tem tanto cabimento como a de um busto de Rosa Casaco num museu dedicado à resistência anti-fascista.
SÓ FALTA A MENS SANA: Hoje bebi um smoothie que, segundo reivindicação do fabricante, continha mais de 550% da dose diária recomendada de vitamina C. Sinto-me muito bem, sinto-me activo, alerta, pleno de ânimo, e nem um bocadinho oxidado. O smoothie continha acerola e "rosehip". Fiquei a saber que este último é o fruto da roseira, particularmente rico em vitamina C, para além de outras vitaminas, ácidos gordos e flavonóides. Para que o dia fosse perfeito, só me faltava ver um esquilo a atravessar a rua, e foi precisamente isso que sucedeu.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

CH-CH-CHANGES: Em resposta à pergunta de um entrevistador, Nick Clegg, recentemente eleito líder do partido Liberal Democrático, em Inglaterra, afirmou não acreditar em Deus. Pessoalmente, acho que tem escassa relevância o facto de este ou aquele líder político acreditar ou não em Deus. Trata-se de uma questão do foro pessoal. O que me interessa, e muito, é saber se a pessoa em questão deixa que as suas crenças interfiram nos seus processos de decisão, o que pensa sobre a separação Igreja/Estado, e se é mais ou menos imune às pressões exercidas por sectores religiosos na vida pública. Entre outras coisas. Contudo, há que admitir ser positivo e salutar para uma democracia que o líder de um partido com alguma expressão se sinta à vontade para manifestar a sua não-crença, sem rodeios nem tergiversações. Em quase todas as épocas do passado das democracias, e, ainda hoje, em muitos países, isso seria equivalente a suicídio político (sem prejuízo de outras consequências desconfortáveis para a pessoa jurídica ou física do indivíduo). O "Daily Telegraph", curiosamente, parecia mais preocupado com o facto de Clegg ter declarado que "Changes", de David Bowie, é o seu álbum preferido (quando na verdade é um single). Clegg parece apostado em fazer passar a sua mensagem às gerações mais jovens, tendo inclusivamente recrutado Brian Eno para o ajudar nesse desiderato. A acreditar no "Telegraph", tão colossal ignorância da história do rock não pode deixar de augurar um futuro sombrio para o timoneiro dos Lib Dems.

terça-feira, janeiro 08, 2008

LEI 37/2007: Deixou-me encantado, como é óbvio, a entrada em vigor da lei de protecção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco (pois é disso que se trata, e não de uma perseguição aos fumadores, como por vezes se tenta fazer crer). Contudo, trata-se de uma lei marcada por alguns aspectos singularmente asininos. A introdução de excepções (Artigo 5º) é injustificada. Se é consensual que o tabagismo passivo mata e incapacita, numa escala preocupante, como se compreende que a legislação continue a admitir a exposição involuntária ao fumo de trabalhadores e clientes? Só o desejo de agradar a gregos e troianos, esse inexpugnável atavismo do génio português, pode dar origem a aberrações deste género. A maneira pouco explícita como a lei descreve o equipamento técnico que seria requerido, assim como os custos associados, parecem, afortunadamente, ter dissuadido a grande maioria dos proprietários de criar zonas de fumadores nos seus restaurantes e cafés. Também isto está de acordo com as boas tradições portuguesas: as anfractuosidades da legislação são alisadas pela pouca competência com que foram redigidas, e toda a gente fica satisfeita. Amanhã é outro dia, e o que é isto comparado com o raio da Terra expresso em milímetros. Aqui de Inglaterra, onde o bom senso chegou com alguns meses de avanço (sem excepções, sem alíneas), antecipo já o momento em que entrarei numa pastelaria de Lisboa com a garantia de, enquanto saboreio a minha beberagem acompanhada por bolo ou derivado, poder respirar à vontade. Até vai parecer estranho.
MODERN TALKING: Num ensaio publicado em edição recente do "Times Literary Supplement", Gabriel Josipovici lamenta o facto de a esmagadora maioria dos escritores contemporâneos do Reino Unido escrever como se o modernismo não tivesse existido. Pior ainda, como se o modernismo tivesse sido um episódio embaraçoso, que se despacha com uma piada e um encolher de ombros. Achei particularmente conseguida a comparação entre Kingsley Amis e Philip Larkin (que, nas cartas que trocavam, se entretinham a apoucar Virginia Woolf, D.H. Lawrence e outros seus contemporâneos) e um par de crianças que, perdidos numa festa de adultos, onde ninguém lhes liga, se vêem reduzidos a sussurrar graçolas dirigidas aos convivas. Não pude deixar de associar estas reflexões ao falecimento de Fernanda Botelho, exemplo excelente de uma autora agudamente consciente das convulsões que o romance conheceu no século XX, e que soube, de forma magistral, integrar essa herança no processo de maturação da sua voz ficcional própria. Não são muitos os nomes da actual ficção portuguesa em relação aos quais se pode dizer o mesmo (Vergílio Ferreira era outro exemplo). Talvez porque o modernismo foi, entre nós, sobretudo obra de poetas, os autores de hoje, com demasiada frequência, preferem alojar-se nos seus pequenos nichos de pós-modernismo estéril do que dar continuidade ao trabalho de reflexão iniciado pelas gerações anteriores. Um aspecto que Josipovici deixou talvez sem a devida ênfase foi a reduzidíssima tendência dos ingleses para se deixarem contaminar por influências estrangeiras. Mais do que a uma antipatia pelo modernismo, parece-me ser a essa resistência aos ventos que sopram do continente que se deve atribuir o défice de consciência histórica dos ficcionistas britânicos.

domingo, janeiro 06, 2008

FERNANDA BOTELHO: Fernanda Botelho faleceu e, como seria de esperar, não mereceu mais do que o destaque que a imprensa reserva (apetece-me dizer "concede, a contragosto") aos criadores e artistas que não tiveram a ventura de, em vida, aceder ao círculo de ícones da cultura oficial onde residem Saramago, Lobo Antunes, Paula Rego, Manoel de Oliveira, e poucos mais. Sou admirador dos romances de Fernanda Botelho. Se bem que a sua obra não possua a dimensão da de Agustina Bessa-Luís, têm em comum o facto de serem subvalorizadas, e de confirmarem uma minha convicção que vem de longe: a de que, em Portugal, se consome demasiada energia em picardias antunino-saramaguianas para reconhecer a excelência e a grandeza de certos autores que cuidam mais mediocremente das suas imagens. O que eu mais aprecio na maneira de escrever de Fernanda Botelho é o modo como explora a riqueza e complexidade humana das suas personagens nos seus romances, sem que isso a iniba de empreender um trabalho subtil e arrojado sobre a matéria ficcional. Por outras palavras, a profundidade das personagens nunca serve de álibi para descurar o aspecto formal. Os seus romances possuem estruturas complexas, por vezes desconcertantes, mas a sobriedade da autora nunca permite que se transformem em meros exercícios de estilo, da mesma forma que um sempre presente e saudável cepticismo a respeito da natureza humana impede que as personagens assumam preponderância sobre a ideia de ficção que funciona como fulcro do livro. Como seria de recear, muitos dos testemunhos recolhidos aquando da morte de Fernanda Botelho (não me lembro dos responsáveis, e pouco importa) pareceram mais apostados em salientar o facto de se tratar de uma mulher num mundo predominantemente masculino (com o que isso acarreta de loas à sua "visão" e "escrita feminina") do que em explicar a sua importância e valorizar o seu talento.
UM GRANDE POST: Um grande post para começar bem o ano de 2008. Temo apenas que os esforços e a clareza argumentativa do Ricardo se baldem, perante a proverbial má-fé dos potenciais destinatários. Esthers Mucznicks, Joões Césares das Neves, Antónios Marujos e outros que tais continuarão a defender que a laicidade não é mais do que uma forma de religião, que o ateísmo conduz inevitavelmente à amoralidade e é o mais eficaz cadinho para a ditadura, e que toda e qualquer medida que vá no sentido de concretizar a separação entre Igreja e Estado é um atentado contra as crenças profundas do bom povo português. Há pouco a fazer face àqueles que substituiram o bom senso e o exercício da racionalidade pela mera enunciação de dogmas.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

OS MEUS FILMES DAVAM UMA VIDA: Listas de filmes da vida são uma das coisas que tornam a existência mais doce, sobretudo quando a sua elaboração tem como efeito secundário, ou mesmo principal, um debate sobre o que vem a ser afinal um filme da vida. Com pouco tempo disponível entre mãos (em vésperas da partida para mais uma expedição de bird-watching, squirrel-frightening e kitten-fondling nos confins bravios de East Anglia), e sem desprimor para as bem fundamentadas opiniões alheias, atrevo-me a avançar três critérios necessários e suficientes para qualificar como "filme da vida" um filme que, de outro modo, não o seria.
  • Provoca forte e duradoura impressão no espectador.
  • Presta-se a que sobre ele se reflicta (o que exclui arrufos e meras reacções do foro visceral).
  • Essa impressão interage com os (mais ou menos voláteis) estados de espírito que marcaram uma determinada fase da vida do espectador.

Passando à prática, é com prazer que respondo ao desafio lançado pelo Sérgio do Auto-Retrato (há mais de 2 meses, é certo, um tempo de reacção que faz jus às tradições deste blog):

(5 de entre os 50 ou mais que poderia escolher. Demasiados filmes para tão pouca vida?)

LEIS DE KEPLER: O Umblogsobrekleist deseja a todos os seus leitores, clientes, visitantes, sócios, simpatizantes e credores um aprazível périplo da Terra em torno do Sol. Obrigado por passarem aqui. Tentarei ser mais assíduo em 2008, ano da entrada em vigor da lei 37/2007, das Olimpíadas em Dresden (sim, leram bem, Dresden), dos 80 anos de Jacques Rivette, e dos previsíveis revivalismos lacrimosos por ocasião do centenário do regicídio. Assunto não irá faltar.